São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Empregado de multinacional fala 'portuglês'

LUCIA MARTINS
DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo que não façam negócios semelhantes, funcionários de bancos e grandes empresas multinacionais dominam a mesma linguagem: o "portuglês".
Sendo uma empresa nacional ou não, mixar português e termos técnicos em inglês é parte da rotina de qualquer empresa com contatos no exterior.
A "importação" de termos começa nos cargos. Fernanda Kurebayashi é manager de information system do Bank Boston.
"Usamos inglês quase 100% do tempo", diz Fernanda. Em português, ela seria gerente de informações (responsável por previsões dos negócios), mas onde trabalha a maior parte dos cargos não é traduzida.
Em vez de relatórios, ela faz books. Não calcula os gastos do cliente, analisa os spendings. Não segue as ordens do chefe, mas do head officer. Seu calendário começa em january e termina em december. Tudo isso para quem se formou em língua portuguesa e afirma só falar o inglês "de turista".
O mesmo ocorre com o trade de equity Richard Wahba. Ele opera ações do banco Sul América. Começa o dia lendo jornais estrangeiros e passa a maior parte do tempo em conference calls para saber como vai o mercado.
"Muitas dessas palavras existem em português, mas todo mundo só fala em inglês. Virou um código."
O sales specialist da IBM Victor Margraf acha "feio" essa mistura de inglês e português, mas afirma que "é inevitável". "Tento evitar quando não estou trabalhando, mas aqui é impossível. É assim que todo mundo fala", diz.
Mesmo evitando, o dia de Margraf -que é especialista em vendas- é cheio de meetings (reuniões), conference calls (telefonemas de negócios) e muitos issues (problemas a resolver).
Para o superintendente do Unibanco, Fernando Homem de Melo, esse vocabulário específico afeta pouco o seu cotidiano fora do trabalho. "O inglês está no meu dia-a-dia. Uso algumas palavras fora daqui, mas não muito."
Mas, durante toda a semana, o contato é muito frequente. "Todo dia tenho de falar ao telefone com alguém em inglês, além dos almoços de negócio."
Paula Nader, gerente de comunicação do Bank Boston, concorda. "São muitos termos específicos, que formam uma espécie de bula de remédio. Você tem de falar assim no trabalho."
Paula afirma que não costuma falar muito em inglês porque, na maior parte do seu dia, tem de conversar com clientes. O "portuglês" é mais usado quando fala com colegas ou com empresas de fora. Internamente, discute como atingir seus clientes up scale (sofisticados) e que propostas take one (pegue uma) colocará em display (exposição).

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