São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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A crise na Ásia

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A recente crise financeira dos países do Sudeste Asiático parece surpreendente para uma região que vinha crescendo a taxas superiores a 8% ao ano nos últimos dez anos. Mas essa crise se explica em boa medida pela euforia gerada na expansão anterior e pelo clima de otimismo exagerado com as boas notícias externas. Como se sabe, o excesso de otimismo não se deu só por lá, mas contagiou os formuladores de política econômica por aqui também.
As dificuldades financeiras do Sudeste Asiático repetem os casos clássicos de expansão-euforia-crise tão bem conhecidos dos livros de economia sobre essa questão. Ao longo dos últimos anos, houve um enorme crescimento dos empréstimos domésticos arriscados, alavancados por financiamentos externos, que permitiram um crescimento artificial e uma expansão excessiva de diversos setores, ademais de casos típicos de fraude e corrupção.
Boa parte da expansão do crédito foi para a construção civil, resultando em grande número de imóveis sem compradores. Outra parte foi para os setores das indústrias automobilística, eletrônica e de vestuário voltados para a exportação. No entanto, há hoje um excesso de oferta internacional nesses setores, fato que transparece em preços declinantes para vários produtos.
O período de crescimento favoreceu a expansão dos empréstimos bancários com regras de supervisão extremamente permissivas. Esse clima de tolerância estimulou o favoritismo político e o enriquecimento fácil; agora, deixa para trás uma montanha de dívidas impagáveis ou que fica para ser paga pelo poder público.
A crise veio ao se perceber que as taxas de crescimento do endividamento privado e as projeções de expansão das exportações eram insustentáveis. Hoje a instabilidade que se iniciou em julho na Malásia ainda não terminou e agora assusta a Coréia e o Japão.
O fato desagradável é que essa crise está apenas pela metade. Há uma enorme crise bancária ainda a ser superada e o crescimento da região ficará constrito nos próximos anos. Tudo indica que ainda teremos novas rodadas de instabilidade até que o cenário econômico da Coréia do Sul fique mais previsível -o que só ocorrerá após as eleições no final do ano- e que os desdobramentos sobre a economia japonesa se tornem mais claros.
O segundo fato desagradável é que a instabilidade na Ásia deve realimentar a turbulência por aqui. Em que pese a elevação dos juros, o pacote fiscal e a recessão que vem por aí, a economia brasileira apresenta uma vulnerabilidade nas suas contas externas, além de ter uma eleição geral marcada para o próximo ano. Ou seja, tornou-se um prato cheio para ataques especulativos.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

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