São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Superação da crise será mais rápida agora

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Banqueiros e investidores arriscam seus capitais, analistas e jornalistas arriscam seu prestígio (quando ainda têm algum). Estamos às portas de uma depressão mundial ou tudo não passa de mais uma turbulência financeira que não será a última?
Aliás, é curioso notar que "prestígio" e "prestidigitador" têm a mesma raiz no vernáculo: é uma ilusão atribuída a poderes sobrenaturais, à magia. O prestidigitador (o "mágico") deve mover as mãos e os dedos com rapidez. Os jornalistas também.
Nos últimos dias, em reportagens na "Economist" e nos comentários de economistas, o cenário de depressão mundial voltou à cena. A verdade, como lembra Robert J. Samuelson em artigo no "Washington Post" da última quinta-feira, é que o aprofundamento da crise asiática tem sido maior que o imaginado. Ser otimista ou simplesmente descrer da catástrofe, nessas condições, é uma grande temeridade.
Samuelson alerta para o transbordamento da crise financeira para outros mercados, afetando as previsões de crescimento em um número crescente de países. Se essa tendência consolidar-se, o crescimento mundial sofreria.
Mas há um saco de motivos bastante razoáveis para não temer a confirmação do pior cenário.
O mais importante é a saúde da economia norte-americana. O dólar se fortalece. Isso reduz os custos de financiamento da economia dos EUA e impede que o seu crescimento continuado vire inflação.
Há também uma dimensão tecnológica. O setor de tecnologia da informação é o mais dinâmico na economia dos EUA. E este é um setor intensivo em importações de insumos produzidos em grande escala no Sudeste Asiático.
No fim do século 19, a Inglaterra era decadente militar, tecnológica e financeiramente. Nos anos 20, a economia norte-americana começava a se tornar a vanguarda, mas ainda não detinha a liderança militar que assumiu com a destruição dos castelos de carta europeus.
Grandes não quebram
Agora, o peso e a inserção estratégica da economia norte-americana no esquema global são não apenas mais favoráveis do que no início do século, mas opostos à crise de hegemonia inglesa do século passado.
Embora o medo da quebradeira bancária na Ásia e no Japão seja real, há nessa área dois fatos relevantes. O primeiro é o velho princípio conhecido como "too big to fail" (grande demais para quebrar). Seja pelo tamanho do Japão, seja pelo sua função reciclando superávits comerciais com papéis do Tesouro norte-americano, sua economia pode sofrer, seu governo pode cair, mas o sistema não pode quebrar.
O segundo fator relevante é a perspectiva de multiplicação de negócios de fusões e aquisições. O governo japonês acena com essa possibilidade e, apesar das manchetes por enquanto estarem concentradas nas perdas patrimoniais, a saída da crise vem com a maior concentração dos capitais.
A notícia da semana passada foi a formação de um consenso asiático quanto à intervenção do FMI e dos EUA na região. No próximo final de semana, as lideranças da Apec (Asian Pacific Economic Conference) se reúnem no Canadá. A superação da crise pode ser mais rápida do que se consegue, por enquanto, adivinhar.

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