São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Santos e Palmeiras duelam no banco de reservas

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Um domingo de clássicos; como tal, imprevisível. Claro que o Vasco cumpre campanha bem melhor do que o Flamengo, assim como o Palmeiras é muito mais estável do que o Santos. E isso lhes confere um certo favoritismo de saída.
Mas o Mengo é sempre Mengo, sobretudo quando cruza com o Vasco, numa rixa quase secular, que vem desde o nascimento dos dois clubes e que se acentuou ao longo da história.
Pois é sempre bom lembrar que, enquanto o Flamengo gabava-se de sua estirpe aristocrática, o Vasco jamais deixou de ser um clube da comunidade portuguesa. O curioso é que ambos, tão distintos na origem, com o tempo, acabaram imantando as grandes massas de torcedores, brancos, negros e mulatos, dos morros aos confins da Leopoldina.
Se o Flamengo, no início, relutou em aceitar o povão nas suas fileiras, o Vasco foi quem escancarou as portas do futebol carioca aos negros, mulatos e brancos analfabetos.
Se o Flamengo lutou até o fim contra a profissionalização dos jogadores, o Vasco foi pioneiro e, por isso mesmo, teve de pagar alto preço nas primeiras décadas do século.
Mas, nesse campo, o Flamengo deu a volta por cima: hoje, sua imagem está ligada definitivamente às camadas mais humildes da sociedade carioca, e seu símbolo não poderia ser mais popular -o urubu malandro. Já o Vasco continua sendo o Almirante desbravador, ou, então, o português de bigodes fartos e retorcidos, montado em tamancos, como numa caricatura de Calixto ou Pederneras, embora arregimentando a segunda maior torcida do Rio.
Por tudo isso, deveremos ter um Maracanã em máximo esplendor. E um gigantesco ponto de interrogação no campo.
Já Palmeiras e Santos resumem suas diferenças ao período de fastígio de Pelé & Cia., quando, por aqui, na província, apenas a Academia de Chinezinho e de Ademir da Guia ousava destronar, vez por outra, o Rei e sua corte.
Hoje, a disputa vai para o banco de reservas, onde se sentam, de um lado, Felipão, de outro, e Luxemburgo. Felipão, ferrenho adepto do futebol de resultados; Luxemburgo, cultor de um jogo mais refinado.
O diabo é que, dada a diferença de recursos disponíveis a cada um, esse jogo paralelo está comprometido de saída. E, se o Santos der a volta por cima, será muito mais resultado das broncas de Luxemburgo sobre seu elenco do que consequência de qualquer superioridade tática ou técnica.
*
Li nos jornais outro dia declarações de Felipão que me remetem a quase 30 anos atrás, quando do advento do famigerado cabeça-de-área. Já se dizia, então, o que Felipão repete hoje como novidade: no futebol de hoje, não se pode pensar em jogar bonito.
Resumindo: tanto se ganha quanto se perde jogando feio. Mas, como diz Sérgio Ricardo, feio não é bonito.
Logo, por que não jogar bonito, simplesmente? Ao menos, não fará feio na derrota.

Texto Anterior: Domingo de duelos
Próximo Texto: Cabeças
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.