São Paulo, domingo, 23 de novembro de 1997
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Caixa-preta; Mercosul; Liberdade cerceada; Lições da história; Devolução de impostos; Censura; Tudo na mesma; Significado alterado

Caixa-preta
"Meus calorosos cumprimentos pelo editorial 'Luz na caixa-preta fiscal', à pág. 1-2 (Opinião), edição de 18/11, que aplaude a iniciativa do pacote fiscal do governo de atacar subsídios.
Cumpre lembrar que a Folha foi pioneira ao denunciar, em recente conjunto de reportagens, essas verdadeiras benesses fiscais que prestam o desserviço de jogar recursos públicos no ralo."
Emerson Kapaz, secretário da Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)
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"Em relação ao editorial 'Luz na caixa-preta fiscal', publicado na Folha, à pág. 1-2 (Opinião), em 18/11, gostaríamos de expressar nossa consideração e fazer algumas ponderações sobre o assunto.
A afirmação do texto -de que 'finalmente se confere tratamento de instituição financeira às chamadas factorings (empresas que negociam cheques pré-datados)'- contém um equívoco conceitual quanto à natureza da verdadeira atividade de fomento mercantil (factoring).
É equivocado afirmar que o factoring é uma atividade de troca de cheques. O verdadeiro factoring pressupõe a prestação de serviços, exclusivamente a pessoas jurídicas, de seleção de fornecedores e matérias-primas, análise de mercado, identificação de compradores, acompanhamento e consultoria na gestão empresarial e a consequente compra dos direitos mercantis sobre vendas realizadas a prazo. Troca de cheques, como coloca o editorial, é uma atividade clandestina, praticada por agiotas de plantão, que se utilizam indevidamente do nome do factoring.
A atividade de fomento mercantil não pode ser comparada com as instituições financeiras, porque o factoring não faz captação de recursos no mercado financeiro. O factoring trabalha com recursos próprios de sua carteira de crédito. O governo não pode mudar a razão de ser de um setor da economia e confundir duas atividades distintas em sua essência."
Luiz Lemos Leite, presidente da Associação Nacional de Factoring e da Federação Brasileira de Factoring (São Paulo, SP)

Nota da Redação - Sejam quais forem as atividades "pressupostas" pelo factoring, a "compra dos direitos mercantis sobre vendas realizadas a prazo" contempla, como uma das modalidades de venda a prazo, aliás, mais largamente utilizadas pelo comércio no país, a negociação de cheques pré-datados, como afirma o editorial. Se as empresas de factoring oferecem crédito, com recursos próprios ou não, parece óbvio que devam ser consideradas também como instituições financeiras.

Mercosul
"A respeito de artigo do economista Roberto Teixeira da Costa, publicado na Folha, à pág. 1-3 (Opinião), em 15/10, concordo que, antes de ampliar o Mercosul, devemos consolidá-lo por intermédio da transparência e do diálogo entre as partes.
Mas, além dos aspectos do comércio, o êxito só virá por meio de ligações estruturais entre os países: ações políticas (tomando como exemplo a dinâmica do Parlamento Europeu) e culturais (promoção de eventos comuns, periódicos, em diferentes cidades do Mercosul) apoiadas em organizações comuns aglutinantes."
Maria Margarida Silva e Castro, coordenadora do Instituto de Cultura Lusófona Antônio Borges Sampaio (Uberaba, MG)

Liberdade cerceada
"Na última quarta-feira, os estudantes Pedro Sette Câmara, Álvaro de Carvalho e Sérgio Coutinho de Biasi distribuíam exemplares de seu jornal 'O Indivíduo', na PUC do Rio de Janeiro, quando foram cercados por uma centena de militantes encolerizados, que, desfechando tapas e cuspidas nos seus rostos, ameaçavam surrá-los e depois queimar os exemplares da publicação junto com os corpos dos editores.
O pretexto para justificar as violências foi que o jornal era 'racista'. Mas li a publicação inteira e tudo o que encontrei foram críticas ao colonialismo cultural que inspira alguns líderes do movimento negro; críticas manifestamente mais brandas do que aquelas que, em pessoa, venho publicando em livros e jornais, entre os quais a Folha de 20/11, que nesse caso há de ser muito mais racista do que 'O Indivíduo'.
No entanto, a Reitoria da PUC, em vez de punir os agressores, castigou as vítimas, apreendendo seu jornal e as ameaçando de sanções disciplinares. Depois, elevando o cinismo a alturas de grande arte, anunciou ainda, orgulhosamente, seu propósito de incentivar novas perseguições no campus.
As consequências de tanta barbaridade são previsíveis: se o exemplo da PUC for seguido em escala nacional, se críticas tão leves quanto as apresentadas em 'O Indivíduo' puderem ser proibidas e punidas como 'racistas', se agredir seus autores se tornar mérito em vez de crime, logo este país estará sob o tacão da mais presunçosa tirania de quantas já tentaram reprimir pela força o pensamento humano."
Olavo de Carvalho (Rio de Janeiro, RJ)

Lições da história
"O ex-ministro Delfim Netto costuma dizer que ninguém podia prever a elevação brutal das taxas de juros no final dos anos 70, quando o Brasil contraiu muitos empréstimos bancários em dólares, aproveitando-se da liquidez e dos juros baixos no mercado internacional.
Agora, Pedro Parente diz na Folha de 13/11, pág. 2-19 (Dinheiro), que ninguém era adivinho para prever que a situação externa mudaria tão rapidamente. Ora, basta estudar um pouco a história para constatar que períodos de liquidez internacional não duram indefinidamente..."
Julio Cesar Castro (São Paulo, SP)
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"As 51 medidas adotadas pelo governo demonstram que ele ficou por muito tempo na expectativa dos investimentos externos, sem qualquer preocupação com as movimentações especulativas do capital em todo o mundo."
Yvette Kfouri Abrão (São Paulo, SP)

Devolução de impostos
"Nunca é demais lembrarmos que este mesmo governo federal, que agora aumenta impostos, é o mesmo que ainda nos retarda a devolução daqueles empréstimos compulsórios do combustível e do carro novo."
Roberto Gomes Caldas Neto, presidente da Associação Brasileira de Defesa do Contribuinte (São Paulo, SP)

Censura
"Causou-me surpresa e indignação a notícia veiculada na Folha, em 20/8, à pág. 3-2 (Cotidiano), que diz da apreensão de quatro livros da Revisão Editora na Bienal do Livro, no Rio. A queixa-crime fora registrada porque supunha que essas obras faziam apologia do anti-semitismo.
Nenhum deles faz apologia do racismo, nem do anti-semitismo, nem de drogas, nem da pornografia. Se o Brasil é livre e soberano, tais picuinhas, que redundam em danos materiais e morais, devem ser coibidas. Afinal, pensava que apreender livros fosse coisa de nazista."
Altair Reinehr (Maravilha, SC)

Tudo na mesma
"Só ouço falar em desemprego, aumento de impostos, juros mais altos. Entra ano e sai ano, mudam os governantes e tudo continua a mesma coisa. Quando que nós vamos poder abrir o jornal e ver que as coisas estão mudando para melhor?"
Sandra Lopes (Ribeirão Preto, SP)

Significado alterado
"Democracia e política no Brasil são sinônimos de barganha. Será que este país tem jeito?"
Pedro Palmieri (São Paulo, SP)

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