São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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Adiamento pode favorecer ex-auditor

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O CFC (Conselho Federal de Contabilidade) adiou o julgamento de recurso do ex-auditor do Banco Econômico Durval Costa Millan, da Ernst & Young, contra a pena de suspensão por tempo indeterminado que lhe foi aplicada em março de 96 pelo Conselho Regional de Contabilidade da Bahia.
A tramitação do processo foi marcada por decisões controvertidas. O recurso estava engavetado no CFC, em Brasília, e não foi nomeado um relator para o caso.
O julgamento -que deveria ter sido realizado na última quinta-feira- só foi anunciado pelo presidente do CFC, José Maria Martins Mendes, depois que a Folha publicou reportagem, em 6 de outubro passado, revelando a impunidade das auditorias e o corporativismo nas entidades que fiscalizam os contadores.
Se um processo ficar paralisado durante três anos, pendente de julgamento ou despacho, será arquivado, e a punição perde efeito.
"Estranhamos muito essa demora, o processo já deveria ter sido julgado", diz o ex-presidente do conselho da Bahia Alcenir Fernandes de Castro.
O conselho regional está sob intervenção do CFC desde setembro de 96. Foi afastada toda a diretoria da gestão de Castro, que condenou -por unanimidade- Costa Millan e o contador do Econômico, Melchiades de Almeida.
Uma sindicância realizada pelo CFC apurou supostas irregularidades e má conduta administrativa.
Novos documentos
O CFC deferiu o pedido de adiamento encaminhado pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto, que defende o auditor da Ernst & Young, para juntar novos documentos. Também foi requerida a defesa oral no julgamento.
O CFC concordou em enviar ofício ao Banco Central pedindo cópias de um suposto relatório do interventor do Econômico que isentaria Costa Millan de responsabilidade por irregularidades.
A iniciativa de pedir esses documentos ao BC normalmente caberia à defesa de Costa Millan.
O diretor jurídico do CFC, Pedro Miranda, alega que "um pedido do conselho terá mais força e é uma demonstração de que o órgão não está oferecendo empecilho para a ampla defesa do auditor".
O Banco Central informou à Folha que os departamentos responsáveis pelo assunto desconhecem tal relatório do liquidante.
Novos procedimentos
O julgamento do recurso de Costa Millan também seria realizado sem seguir o regimento interno.
Os recursos ao CFC são julgados em duas câmaras, com oito conselheiros -a de ética e a de registro e fiscalização-, e os resultados são referendados depois pelo plenário.
No caso do Econômico, o julgamento dos recursos seria feito diretamente pelo plenário.
"Estaremos ampliando o fórum", diz Miranda. "Um assunto como esse, que vai gerar indagações na categoria profissional, terá 15 conselheiros que poderão debater a matéria no plenário."
"Tenho dúvidas de que haverá um julgamento justo, se o processo for para o plenário sem ter sido distribuído para um relator", diz Castro, ex-presidente do conselho regional. Ele também estranha o fato de o CFC aceitar a defesa oral, sem permitir, igualmente, que haja sustentação oral da acusação.
"Acho tudo muito estranho e fico preocupado", diz o também afastado vice-presidente do conselho regional, Fernando José Villas Boas. Ele foi um dos autores do parecer técnico que recomendou a abertura de processo contra Costa Millan e o contador Almeida.

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