São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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"O metal é um vampiro que precisa de sangue novo"

DA REDAÇÃO

O cantor inglês de heavy metal Bruce Dickinson esteve conversando com leitores do Folhateen no último dia 13. Durante mais de uma hora, o ex-vocalista do Iron Maiden respondeu a perguntas de fãs no auditório da Folha.
Dois dias depois, Dickinson se apresentou diante de 25 mil pessoas em São Paulo, no Skol Rock. Com outro ex-Iron Maiden em sua banda, o guitarrista Adrian Smith, Dickinson divulga seu novo CD, "Accident of Birth".
Os outros álbuns da carreira solo de Dickinson são "Tattooed Billionaire" (90), "Balls to Picasso" (94) e "Skunkworks" (96).
A seguir, os melhores momentos do encontro, mediado pelo jornalista e crítico musical Ivan Miziara.
*
Alex, 15 - Por que você não manteve a mesma banda com a qual gravou "Balls to Picasso" para fazer o disco "Skunkworks"?
Bruce Dickinson - "Balls to Picasso" foi gravado com a mesma banda que eu chamei para o novo álbum, "Accident of Birth".
Quando eu encontrei esses caras, Roy Z., Eddie e Dave, eles tinham sua própria banda, Tribe of Gipsys, e estavam tentando um contrato com gravadora. Eles assinaram com a Mercury logo depois que terminamos "Balls to Picasso". Então, para os shows seguintes, montei outra banda, com a qual fiz "Skunkworks".
Com esse pessoal não consegui criar um espírito de banda, as influências deles eram bem diferentes das minhas. O baterista tinha 19 anos, eu já nos 37... Mas acho "Skunkworks" muito bom. Foi recebido com suspeitas por uma parte da comunidade do heavy metal, porque não é bem um disco de metal. Acabou não tendo muito impacto. Aí, como a Tribe of Gipsys não teve seu disco lançado, voltamos a gravar juntos.
Rita, 22 - O que você acha do heavy metal brasileiro?
Dickinson - Eu não sou um expert, mas é incrível para qualquer país gerar uma banda como o Sepultura, que não é apenas um grande sucesso comercial, mas também uma banda influente em todo o cenário. O Sepultura influencia muitas e muitas bandas na Inglaterra, nos EUA...
Fernando, 18 - Existe alguma possibilidade de você voltar para o Iron Maiden?
Dickinson - Não. (aplausos)
Antônio, 18 - Você pretende continuar assim, sem um estilo fixo e sem uma banda fixa?
Dickinson - Eu tento ter uma banda fixa, mas as pessoas têm suas carreiras. Eu quero convencer o Tribe of Gipsys a tocar sempre comigo, mas às vezes eles não podem sacrificar sua própria música pela minha. Agora, estou feliz, porque eles querem fazer a turnê.
Acho que eles podem ter seu próprio contrato para as coisas deles, é só a gente organizar nossa agenda. E isso é bom, porque um dos motivos que faz uma banda se separar ou começar a fazer música chata é que as pessoas ficam cansadas umas das outras. Uma banda deve ficar junta se quiser, não porque precisa ficar junta. Eu quero ficar com essa banda o próximo ano, e o outro, e... Bem, depois é o ano 2000, que é o fim do mundo, então... (risos)
Marcelo, 21 - Como foi a experiência de escrever um livro?
Dickinson - Foi um trabalho muito duro. Você começa e, quando está na página 20, percebe que ainda tem uma centena pela frente, talvez algumas centenas... "Oh, o que eu fiz?" (risos) Eu achei que nunca terminaria. Acabei conseguindo no meio de uma turnê. Durante um tempo, mostrei a muita gente, à banda, e todos achavam que deveria ser publicado, porque era divertido. Quando saiu, vendeu 35 mil cópias na Inglaterra, mas não foi fácil. Eu assinei o contrato para a publicação, e lá estava escrito o prazo, dizia que deveria ter 220 páginas... Pensei: "Merda! Como vou fazer? Talvez se eu deixar bons espaços em branco entre os capítulos..."
Rodrigo, 14 - O que você acha da cena atual do metal?
Dickinson - Confusa, fragmentada. O estilo era mais forte nos anos 80. Eu não gosto de ver bandas antigas reunidas, como Kiss, Motley Crue, Ratt... Elas não vão dar ao metal o que ele precisa para ser encarado novamente com seriedade. O metal é como um vampiro, precisa de sangue novo.
Daniel, 17 - O que você acha do Marylin Manson?
Dickinson - Muita gente parece assustada com ele. Não o acho assustador, acho que ele segue a tradição de Alice Cooper, sabe, decapitação, bebês esfaqueados... Marylin... Bem, não sei o que ele pode fazer além disso. Musicalmente, ele faz aquela coisa industrial, e acho que não faz bem. Barulhos, chiados... Sei lá.
Aislan, 20 - Bruce, você foi influência direta de muitos vocalistas. Quais os que você prefere?
Dickinson - A melhor voz que escutei no rock é a de Chris Cornell (do extinto Soundgarden). Acho que ele não vai mais cantar rock pesado, mas ele pode superar qualquer vocalista de metal.
Iran - Primeiramente, eu queria falar para o Bruce. Toda vez que ele vem aqui, eu vou atrás dele, e ele nunca se lembra de mim, mas, tudo bem! Eu queria saber sobre a experiência maluca com os fãs que você teve no ano passado, na Galeria do Rock (em São Paulo).
Dickinson - Fiquei preocupado, achando que as pessoas podiam se machucar. Havia 3.000 pessoas, muitas, próximas a janelas. Tinha medo de que alguém caísse. Mas foi um grande evento.
Iran - Eu perdi um sapato. (risos)
Richard, 24 - Como é estar trabalhando de novo com Adrian Smith?
Dickinson - Ele vai estar no próximo CD. Nosso relacionamento está melhor do que nos tempos do Maiden, temos menos discussões.
Clayton, 20 - O que você acha dessas bandas de heavy metal que traem o estilo por causa do modismo? Por exemplo, o próprio Metallica, que traiu o seu som.
Dickinson - Muitas bandas fazem coisas para ganhar dinheiro, mas outras têm necessidade de fazer coisas novas. Às vezes, é difícil diferenciar quem é autêntico. É uma grande tentação para uma banda de metal permanecer igual durante anos, porque parece que uma grande parte do público gosta disso. Por isso, não entendo uma banda como o Manowar, que gosta de dizer que tal coisa é "falso metal". Eu não sei o que isso significa. Você gosta de uma banda ou não gosta. É simples assim.
Alexandre, 19 - Há alguma chance de uma turnê por todo o Brasil?
Dickinson - Vir ao Brasil todos os anos é uma grande idéia. Eu tento fazer turnês cada vez maiores. Eu sempre peço para os organizadores incluírem o Brasil, porque eu gosto mesmo daqui.

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