São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 1997
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Frank Sinatra encontra perfeição na sarjeta

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA A FOLHA

Frank Sinatra está para morrer. Talvez nem complete 82 anos no próximo dia 12 de dezembro.
Publicações do mundo todo acompanham passo a passo seus problemas de saúde. E não poderia ser diferente. Sinatra é o maior cantor, o mais cool, o mais completo.
Foi também o mais malvado e mau-caráter. Perto dele, os Rolling Stones, mesmo no auge da psicodelia, pareciam comportados escoteiros-mirins.
A revista "New Yorker" de 3 de novembro traz um longo perfil de Frank Sinatra, epitáfio esplêndido para a voz que marcou este século popular.
Primeira constatação: ele, um filho único, nunca se livrou dos fantasmas da infância, basicamente a rejeição à cidade natal (a caipira Hoboken, New Jersey) e as exigências sem fim da mãe, a genovesa Dolly, que apesar de todo o sucesso do filho o tratava como um banana.
O fio condutor da vida de Frank Sinatra foi assimilar valores de uma classe que não era a sua. Sobre isso, a "New Yorker" menciona um encontro dele com o jornalista Pete Hamill, outro filho de imigrantes (no caso, irlandeses) que "subiu na vida".
Em Monte Carlo, eles observam os filhos de Hamill brincando. Sinatra diz: "Eles podem estudar nas melhores escolas. Podem entrar em qualquer lugar, e saberão o que fazer. Qual garfo pegar." Um comentário e tanto para alguém que, se decidisse comer só com a mão, poderia. Em qualquer lugar.
A ambição da mãe pesou como chumbo sobre os ombros de Frank. E ele também exigia sempre mais: sucesso, dinheiro, drogas e mulheres.
Neste último item, bateu todos os recordes de variedade da história do showbizz. A "New Yorker" lista entre suas conquistas Ava Gardner (o grande amor), Sophia Loren, Marilyn Monroe, Natalie Wood, Kim Novak, Marlene Dietrich, Judy Garland, Lauren Bacall e muitas outras.
Vale lembrar o comentário do ator Humphrey Bogart: "Para Frank, o paraíso é um lugar onde há um monte de mulheres e nenhum jornalista".
Na década de 40, Frank perdeu público, mas não largou a sarjeta. Bebia cada vez mais e era fotografado constantemente ao lado de mafiosos. Comprava jornalistas, envolvia-se em brigas. Na vida amorosa, enfrentava uma sucessão de tumultos.
Ava Gardner resumiu: "Na cama, era tudo ótimo; os problemas começavam a caminho do bidê". Depois de 11 meses de casamento, ela desistiu quando Sinatra telefonou para contar que estava fazendo sexo com outra mulher.
Mas continuaram amigos e solidários. Um recorria ao outro nos momentos de crise.
A solidariedade de Frank, obsessiva, grudenta, é destacada pelos amigos, Burt Lancaster (com quem Sinatra trabalhou no memorável "A um Passo da Eternidade") reclama: "Quando você tem um problema, passa a ser problema de Frank também. E isso acaba cansando, porque às vezes é melhor resolver as coisas sozinho".
A vida de Sinatra está indo embora, e é pena que ele não possa resolver isso sozinho.

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