São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 1997
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Pioneira associa letras a imagens

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Branca Alves de Lima, 87, autora da cartilha "Caminho Suave", afirma que só "ao final de diversos anos é que se vai chegar à conclusão se o construtivismo dá ou não resultados".
No ano passado, dona Branca fechou sua editora, que vendeu 40 milhões de cartilhas. "Eles estão projetando, quase decretando, que os alunos não usem mais cartilhas", afirma sobre os técnicos do Ministério da Educação.
A história da "Caminho Suave" revela um dos traços mais marcantes da educação brasileira: a imposição de metodologias a partir de um poder central.
Na década de 30, quando dona Branca começou a lecionar no interior paulista, a prática "em moda" para alfabetização se chamava processo analítico.
"Depois de 21 anos chegaram à conclusão que não funcionava e deram liberdade didática aos professores", conta. "Aí comecei a construir o meu sistema, de imagens. Fiz uma porção de cartazes, mas, no começo, as figuras não eram associadas às letras."
"Um dia, estava olhando meus cartazes e tive um insight. Comecei a desenhar com giz em cima dos cartazes. No G, desenhei um gato, e disse 'Veja como a letra G se parece com um gato'. Depois, no F, desenhei uma faca. Percebi que a criança, associando letra à figura, esquece menos."
Branca pesquisou em dicionários palavras para cada letra de seu "sistema": A de abelha, B de barriga, C de cachorro (a imagem é o rabo) e assim por diante.
E foi principalmente dessa forma, com letras, sílabas e palavras desenhadas que se alfabetizou no Brasil até a década de 70 -quando a psicóloga argentina Emilia Ferreiro descobriu alguns os processos envolvidos na aprendizagem da leitura e escrita.
Ferreiro mostrou que, de forma semelhante à aquisição da linguagem falada, as crianças primeiro constroem um repertório de textos escritos e, aos poucos formulam hipóteses sobre como esses textos se organizam.
Inversamente ao processo das cartilhas, Ferreiro propôs que se alfabetizasse com textos inteiros. E que, a partir desses textos, se fizesse um trabalho de identificação de suas estruturas (orações, palavras, sílabas, letras).
Diante disso, as cartilhas "saíram de moda" e a alfabetização passou a ter jornais e livros como material auxiliar para a "construção" desse conhecimento.
Dona Branca recebe até hoje pedidos de cartilhas. Atualmente, elas são editadas pela Edipro, que em São Paulo atende na rua Conde de São Joaquim, 332, na Liberdade, CEP 012320-010.
(FR)

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