São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Motta agora é defensor da ação de Maluf

LUCIO VAZ
LUIZA DAMÉ

LUCIO VAZ; LUIZA DAMÉ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ministro, que foi processado por ex-prefeito, apóia cooptação de votos feita por pepebista em favor de reforma

O ministro Sérgio Motta (Comunicações) comandou ontem uma articulação para acabar com o racha entre PSDB, Paulo Maluf (PPB) e PFL e, assim, viabilizar a aprovação da quebra da estabilidade do servidor público por excesso de gastos com a folha de pagamento, cuja votação está prevista para hoje.
Em suas previsões mais otimistas, o governo conta entre 313 votos e 317 votos a favor. Para ganhar, o mínimo necessário é 308.
Motta chamou os líderes governistas para uma reunião-almoço em sua casa. "Eu não concordo com o tratamento que foi dado ao Maluf. Se for preciso, eu ligo para ele e peço uma ajuda na votação", disse o ministro, segundo relato dos líderes à Folha.
A manifestação causou surpresa porque Motta e Maluf são adversários políticos declarados. Maluf processou Motta no Supremo Tribunal Federal por ter sido acusado, na campanha eleitoral do ano passado, de "pilantra".
Após a reunião, o ministro Luiz Carlos Santos (Assuntos Políticos) fez os agrados que o PPB esperava. "Saímos de 309 para 351 votos. O que explica isso? Houve uma composição política abrangente. Se o Maluf trouxe de 20 a 25 votos, foi uma contribuição inestimável."
O grupo malufista do PPB havia ameaçado obstruir a votação da reforma se não fosse reconhecida a importância de Maluf para a vitória no segundo turno. Os tucanos haviam afirmado que o governo teria vencido mesmo sem a ajuda do ex-prefeito paulistano.
Ontem, José Aníbal (PSDB-SP), um dos principais críticos de Maluf, evitou fazer comentários sobre a participação do presidente do PPB nas articulações. Enquanto falava à Folha, passou no local outro deputado tucano, Alberto Goldman (SP). "Eu comento: não fede nem cheira", disse Goldman sobre a ajuda malufista.
Após o almoço, o líder do PPB na Câmara, Odelmo Leão (MG), ligou para Maluf e fez um relato da reunião. O presidente do PPB prometeu estar em Brasília hoje para participar de reunião com a bancada do partido pela manhã.
Defesa
Odelmo saiu em defesa de Maluf. "Não aceito mais esse tipo de provocação ao presidente do partido. Ele foi importante na mobilização feita para aprovar a reforma."
Apesar da operação-abafa, o deputado Wigberto Tartuce (DF), um dos líderes do grupo malufista, não descarta a possibilidade de obstrução.
A articulação de Motta começou cedo. Ele reuniu o presidente nacional do PSDB, senador Teotonio Vilela Filho (AL), e os líderes tucanos para um café da manhã na casa do líder do seu partido na Câmara, Aécio Neves (MG). Pediu o fim dos atritos com o PFL e Maluf.
Aécio resumiu a preocupação do partido. "A aprovação das reforma é importante para o partido. Não podemos criar desculpas para que aliados votem contra."
No almoço, foi feita uma avaliação, caso a caso, dos integrantes da bancada governista. Odelmo afirmou que pode haver 18 dissidências no partido em relação à votação da semana passada. "Hoje (ontem), 14 votos nós não garantimos", afirmou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE). O seu partido tem 110 deputados.
Para garantir a vitória, o comando governista dividiu tarefas entre os líderes na Câmara e os ministros. Cada um recebeu uma lista com os nomes dos deputados indefinidos.

Texto Anterior: A Folha ontem na opinião do leitor
Próximo Texto: Ministro já foi condenado por difamação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.