São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
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Os idosos e a política

IKA FLEURY

O projeto de lei instituindo a Política Estadual do Idoso, atualmente aguardando a sanção do governador do Estado, mereceria todos os nossos aplausos se não apresentasse um grave defeito: é inteiramente supérfluo. Quem se der ao trabalho de compará-lo com o decreto nº 33.825, em vigor desde 22 de setembro de 1991, verá que ambos se superpõem, coincidindo tanto nos fins quanto nos meios e, muitas vezes, até na redação. Há, no entanto, uma diferença notável entre eles. O decreto de 1991, que instituiu o Programa Estadual de Atendimento à População Idosa, transformou-se em realidade. Colocado em prática durante o governo Fleury, resultou numa série de realizações expressivas. O projeto atual, na melhor das hipóteses, representa a vontade de retomar, na antevéspera das eleições, ações que foram propositadamente esquecidas nos três últimos anos.
Relembremos uma das iniciativas mais conhecidas do governo Fleury: a criação das delegacias de Proteção ao Idoso. Só a delegacia da capital, primeira de nove instaladas no Estado de São Paulo, atendeu 26.892 pessoas de terceira idade vítimas de ameaças, lesões corporais, maus-tratos, furtos, abandono material, apropriação indébita e estelionato. Uma extensa reportagem da rede de televisão norte-americana CNN, divulgada em 122 países, atestou o interesse internacional despertado por essa iniciativa paulista.
Mas a segurança foi apenas um dos aspectos do programa durante o governo Fleury. Sua originalidade maior foi justamente atender todas as questões referentes ao idoso por meio do trabalho integrado de 13 secretarias de Estado. Graças a essa integração e aos 1.376 projetos desenvolvidos em municípios paulistas com o incentivo técnico e financeiro do Fundo Social de Solidariedade, foi possível somar milhões de atendimentos em áreas como saúde, turismo, abrigo, lazer, criação de renda e segurança.
Citaremos dois exemplos entre dezenas de outros. Durante o governo Fleury, as 32 Unidades de Saúde localizadas na capital ofereceram atendimento diferenciado aos idosos, com agendamento de consultas geriátricas, de fisioterapia, de fonoaudiologia e de terapia ocupacional. A Secretaria da Criança, Família e Bem-Estar Social conseguiu abrigo ou atendimento em regime meio-aberto para mais de 30 mil idosos carentes.
Infelizmente, todo esse esforço foi interrompido e não há muitas esperanças de que venha a ser retomado. É bem verdade que existe um novo projeto de lei e, certamente, no dia em que for sancionado pelo atual governador, ouviremos os discursos e o foguetório de praxe. Mas, nesse caso, como em tantos outros, falta vontade política. E vontade política é essencial.

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