São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 1997
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Jesús Soto cria música para os olhos

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Olhe bem para esta obra de arte... Preste bastante atenção... Ela vai se movimentar, vai crescer e se retrair. Ela vai dançar para você ver. Vai mexer com os seus sentidos. Ela é de Jesús Raphael Soto, artista venezuelano que inaugura hoje no MAC Ibirapuera sua maior retrospectiva no país.
São 82 trabalhos (72 pinturas, nove objetos e uma gravura), produzidos entre 1953 e 1996, desse que é um dos mais importantes nomes das artes contemporâneas. E "mais" aqui não é apenas superlativo. Soto faz parte da história da arte, mas -convém lembrar- não daquela história da arte estática, acorrentada a datas e nomes.
Suas peças em acrílico, madeira, fios de náilon, tela e metal se transformam, ganham cor, forma e animação com o movimento do espectador em torno delas.
Soto fez espectador e arte se mexerem. Ele é um dos criadores da arte cinética, tendência que se desenvolveu na Europa a partir dos anos 50 e que se fundamenta em possibilidades abertas por movimentos de vanguarda, como o dadaísmo, o construtivismo russo e o futurismo. Seu objetivo é dar movimento -real ou ilusório- à arte. Soto rompeu com a rigidez da obra de arte fixa, em que o espectador tem que imaginar um movimento para ela.
"Quando eu estudava, achava que a pintura, para ser abstrata, deveria ter um valor inventivo não representativo. Isso eu encontrei na música, toda uma invenção de coisas que não existem", disse o artista em entrevista exclusiva por telefone, de Caracas, à Folha.
"Quando eu cheguei a Paris, em 1950, percebi que a pintura abstrata não era tão abstrata assim, pois continuava sendo formal. Tentei então localizar uma possibilidade abstrata pura. Percebi que, se a música conseguiu controlar 12 elementos e fazer uma estrutura com eles, independente de como soava, a pintura abstrata deveria, pelo menos, aproximar-se de Bach ou, melhor ainda, da música dodecafônica", completou.
Aos 74 anos, Soto continua produzindo, e com a mesma vibração de suas peças. Para essa retrospectiva itinerante, criou no ano passado "Sphère Concorde", em alumínio e náilon. A obra é semelhante a uma das peças apresentadas na última Bienal de São Paulo, um dos grandes sucessos do evento.
A mostra foi concebida para o museu parisiense Jeu de Paume, que realiza com essa mostra seu primeiro intercâmbio com um museu brasileiro. Depois de São Paulo, poderá seguir para o MAC de Niterói, no Rio.

Mostra: Retrospectiva Jesús Soto (72 pinturas, nove objetos e uma gravura)
Onde: MAC Ibirapuera (3º andar do Pavilhão da Bienal, portão 3 do parque Ibirapuera, tel. 011/573-9925)
Vernissage: hoje, das 19h às 22h
Quando: de terça a domingo, das 12h às 18h. Até 10 de janeiro
Quanto: entrada franca

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