São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Hollywood escolhe seus maiores clássicos

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Quais os cem maiores clássicos do cinema americano? É exatamente o que está pesquisando o AFI (American Film Institute) de Los Angeles, uma das principais entidades dedicadas à cultura cinematográfica nos EUA.
A iniciativa, lançada há uma semana, celebra o trigésimo aniversário da AFI e, com pelo menos dois anos de atraso, o centenário do cinema "made in USA".
No maior levantamento do gênero feito nos EUA, estão sendo ouvidas cerca de 1.500 pessoas, entre membros da indústria, críticos, historiadores, exibidores e quatro convidados especiais: o presidente e a primeira-dama, Bill e Hillary Clinton, e o vice-presidente e mulher, Al e Tipper Gore. Aos votantes foi apresentada uma lista inicial de 400 clássicos da produção americana (leia quadro nesta página).
A escolha deve ter por critérios "o reconhecimento crítico, a conquista dos principais prêmios, a popularidade no decorrer do tempo, o significado histórico e o impacto cultural".
"Quando nos aproximamos do final do século e refletimos sobre os avanços que o definiram, vemos que entre os mais poderosos, dominantes e vitoriosos está sem dúvida o cinema americano", pontificou o presidente do AFI, Tom Pollock, ao lançar a iniciativa.
A lista com os eleitos será conhecida em junho de 1998, num especial de três horas produzido para a rede de TV americana CBS. Em seguida, uma série de dez episódios de uma hora será exibida na TNT.
O canal de clássicos da Turner (TCM) prepara ainda um festival com o maior número possível dos escolhidos. Uma coleção em vídeo, a AFI Centennial Collection, também está sendo planejada, com o apoio de todos os grandes estúdios.
Como toda lista do gênero, os 400 pré-selecionados causam polêmica. A principal restrição é o foco exclusivo no longa-metragem de ficção -"majoritariamente financiado ou com envolvimento criativo americano".
Não menos discutível é a excessiva vinculação à lógica do Oscar. Com exceção do "Hamlet" (1948), de Laurence Olivier, todos os eleitos como melhor filme estão na lista, assim como a maioria dos indicados para a categoria.
A produção independente, seja a dos anos 50 quando dos 90, foi virtualmente esquecida. Há um só John Cassavetes ("Shadows") e nenhum Samuel Fuller, um John Sayles ("Return of the Secaucus 7") e nenhum Gus Van Sant.
Um Spike Lee ("Faça a Coisa Certa") aqui, um Wayne Wang ("O Clube da Felicidade e da Sorte") ali, uma Nora Ephron ("Sintonia de Amor") acolá pontuam a lista, que reitera a segregação histórica de minorias em Hollywood.
A era muda surge também largamente subestimada, com menos de 20 entre os 400 indicados. Do patriarca Griffith, apenas o óbvio: "Nascimento de Uma Nação" e "Intolerância". Como esquecer "Lírio Partido" (1919)? O mesmo vale para Chaplin: onde está "Casamento ou Luxo?" (1923), talvez seu projeto mais pessoal e capítulo essencial da estruturação do melodrama nas telas?
Por essas e por outras, a seleção do AFI parece antes empenhada em cristalizar uma lista para o grande público do que em efetivamente estabelecer um cânone de relevância estética. Sendo assim, se nos restringirmos ao chamado "cinemão" americano, a lista compõe um bom supletivo.
Alfred Hitchcock reina com nove filmes indicados, sendo seguido de perto, com uma indicação a menos, por Walt Disney, John Ford, Howard Hawks e William Wyler. Steven Spielberg é o diretor ainda em atividade melhor posicionado, dividindo o terceiro posto com o veterano Billy Wilder. Martin Scorsese vem a seguir, ao lado de Frank Capra.
Pesquisas similares foram feitas no calor do centenário, há dois anos, em outros países. "M, o Vampiro de Dusseldorf" (1931), de Fritz Lang, foi eleito o maior filme alemão. "Era Uma Vez em Tóquio" (1953), de Yasujiro Ozu, concentrou os votos no Japão.
"Limite" (1930), de Mário Peixoto, foi mais uma vez confirmado com o mais importante filme brasileiro. Em qual espelho Hollywood hoje melhor se reconhece? Faça sua aposta.

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