São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 1997
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Novos Baianos voltam virados ao avesso

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto as forças contemporâneas do pop baiano se reacomodam em torno de "Tropicália 30 Anos", um pouco da história da música popular da Bahia é recuperada em três relançamentos dos Novos Baianos. Tanto quanto fundamental, a iniciativa das gravadoras é uma bela confusão.
A primeira relíquia é "Grandes Sucessos de Os Novos Bahianos" (é, está escrito assim, "de os" e "bahianos", contra a gramática).
Provando que desinformação é a alma do negócio, a gravadora RGE omite o acontecimento: não há nenhum "greatest hits". O CDzinho é o disco de estréia da banda. A foto de capa é a original, mas o título vem trocado, de "É Ferro na Boneca!" (o verdadeiro), para o enganoso "Grandes Sucessos".
O encarte leva em diante a vergonha -não há informações sobre as datas originais de lançamento ("É Ferro na Boneca!" é de 1970). Uma gravadora que não sabe quando lançou seus discos pode ser levada a sério? Não pode.
Mas, menos mal que bem, aí está afinal de volta o disco tropicalista dos Novos Baianos. É disco dedicadamente continuador das virtudes tropicalistas. Repetem-se os arranjos dissonantes à Duprat e a fusão de pop regional e universal, em canções amalucadas como "Colégio de Aplicação", "Baby Consuelo", "De Vera", "E o Samba Me Traiu".
Flagra uma banda prestes a explodir em talento, mas em nada parecida com a que voltou agora à ribalta, do rock elétrico de "Acabou Chorare" (72) e adjacências.
Aí há outro lançamento da RGE. Chama-se "Ferro na Boneca" e leva uma capa medonha de caricaturas de Moraes, Paulinho, Baby e Pepeu Gomes (que nem era da banda na época). O conteúdo? "É Ferro na Boneca!" -de novo!- e cinco bônus mais que raros.
Deve ser caso único, de gravadora que lança o mesmo disco duas vezes, simultâneas e erradas -seria preciso comprar o segundo com a capa do primeiro para uma solução menos estrambótica. Só no Brasil.
A confusão continua em "Sorrir e Cantar como Bahia", da Continental. O CD duplo tem cara de coletânea, mas na verdade reúne dois discos originais da banda, "Novos Baianos F.C." (73) e "Novos Baianos" (74), mais dois bônus.
A edição é vergonhosa. Não há fichas técnicas ou fotos, e as antológicas capas originais foram para o espaço, dando lugar a um arranjo tipo macumba de flores e folhas de bananeira -como se NB e tropicália fossem sinônimos; não são. Pode se levar a sério uma gravadora que não compreende a história que ajudou a escrever? Não pode.
Restam, de consolo, os CDs propriamente ditos -e, menos mal, não são pouca coisa.
"Novos Baianos F.C.", bem menos conhecido que o cultuado "Acabou Chorare", é tão inspirado quanto. "Cosmos e Damião", "Vagabundo Não É Fácil" e "Os 'Pingo' da Chuva" são clássicos esquecidos da MPB.
"Novos Baianos", o disco de despedida de Moraes nos NB, é o mais experimental da banda, abarcando de idílios pop como os de "Ladeira da Praça" e "Linguagem do Alunte" a delírios concretistas como os de "Ao Poeta".
Fica o dilema: é levar boa música mal embalada ou boicotar o descaso das gravadoras. Claro que a primeira alternativa ainda é mais inteligente. Mas que era caso de Procon, era.
(PAS)

Discos: Grandes Sucessos de Os Novos Bahianos e Ferro na Boneca
Grupo: Novos Baianos
Lançamentos: RGE
Quanto: R$ 18, em média, cada CD

Disco: Sorrir e Cantar como Bahia
Lançamento: Continental
Quanto: R$ 36, em média (CD duplo)

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