São Paulo, sábado, 29 de novembro de 1997
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Reino Unido barra entrada de ciganos

IRINEU MACHADO
DE LONDRES

Um surto de imigração de ciganos tchecos e eslovacos para o Reino Unido criou um impasse internacional para o governo britânico.
Pressionado por contribuintes depois que mais de 300 ciganos entraram no país pedindo asilo nos últimos dois meses, o governo decidiu desafiar grupos de direitos humanos e barrar a entrada de mais ciganos no país.
O problema forçou o ministro britânico das Relações Exteriores, Robin Cook, a viajar para a República Tcheca anteontem, onde anunciou que ciganos em busca de refúgio no Reino Unido serão recusados. Segundo ele, os ciganos serão enviados de volta assim que chegarem ao país.
Desde meados de setembro, 309 ciganos das repúblicas Tcheca e Eslovaca entraram no Reino Unido pedindo asilo.
Segundo o governo britânico, eles seriam atraídos pela "falsa esperança" de que obteriam um melhor padrão de vida à custa de dinheiro público. Os ciganos dizem sofrer ataques racistas e perseguição em seus países.
Ao todo, mais de 800 ciganos chegaram desde o começo do ano à região de Dover (cidade portuária no sudeste da Inglaterra), pedindo asilo ao governo britânico. Seus casos aguardam decisão do Ministério do Interior.
A preocupação do governo britânico aumentou quando o número de ciganos imigrantes começou a crescer de maneira desproporcional, no final de setembro. Em outubro, chegaram a Dover em média 40 ciganos por semana.
Os ciganos normalmente viajam atravessando a Alemanha, Holanda e Bélgica e chegam a Dover nas balsas que fazem a travessia do canal da Mancha.
Enquanto aguardam a análise dos pedidos, podem receber benefícios do governo para moradia, alimentação e ajuda de custo, se não tiverem condições financeiras de se manter. Esses benefícios são pagos pelas autoridades regionais, no caso, o Condado de Kent, onde fica Dover.
"Realmente, está havendo um aumento da violência contra os ciganos nesses países (República Tcheca e Eslováquia). Mas é óbvio que um grande número deles, de uma vez, causa preocupações. O sistema de benefícios local está no momento em completa desordem com tantos pedidos de asilo", disse à Folha Anne Thomas, porta-voz do Conselho de Refugiados do Reino Unido.
"O Reino Unido leva muito a sério suas responsabilidades internacionais para dar asilo a refugiados políticos, mas isso não significa que admitamos qualquer pessoa simplesmente com base em falsas alegações de perseguição", disse o ministro Cook à imprensa.
Para Sharon Janes, 29, da Asylum Aid (organização não-governamental que cuida de casos de refugiados), o governo está "conduzindo muito mal" a questão.
"Os ciganos sofrem perseguição e isso lhes dá direto a pedir asilo", afirmou.

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