São Paulo, sábado, 29 de novembro de 1997
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Apartheid fez campanha contra Winnie

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As acusações que vêm sendo feitas contra Winnie Madikizela-Mandela foram diluídas ontem por declarações de agentes de segurança da época do apartheid que denunciaram uma campanha de difamação contra a ex-mulher de Nelson Mandela, presidente da África do Sul.
Paul Erasmus e Vic McPherson, membros do aparato de inteligência do regime de segregação racial, afirmaram que várias informações falsas sobre Winnie foram divulgadas para desacreditá-la e para dividir o Congresso Nacional Africano (CNA), de Nelson Mandela.
O CNA, então ilegal, era a principal força de oposição ao apartheid.
"Eu divulguei como verídicas informações de que a sra. Mandela representava problemas para seu marido, era alcoólatra e usava maconha", afirmou Erasmus, coordenador da chamada Operação Romulus, contra Winnie.
Segundo o policial, "conseguimos fazer com que as informações chegassem até mesmo ao então premiê britânico, John Major".
"Winnie Mandela era considerada uma revolucionária. Vocês estão cheios de desinformação. Apenas metade deve ser verdade", disse McPherson, ex-chefe da inteligência sul-africana.
A ex-mulher de Nelson Mandela enfrenta desde segunda-feira, frente à Comissão de Reconciliação e Verdade (CRV), acusações de ter participado do assassinato e sequestro de diversas pessoas.
Winnie, por meio de seu advogado, tem negado as acusações. A mais grave delas é o assassinato de Stompie Seipei em 1989, então com 14 anos, que teria sido raptado e mantido na casa de Winnie.
A ex-mulher de Nelson Mandela foi condenada em 1991 pelo sequestro de Seipei, mas saiu livre sob fiança. O chefe de seus guarda-costas, Jerry Richardson, cumpre pena de prisão perpétua pelo assassinato.
Ontem, George Fivas, atual chefe da polícia sul-africana, afirmou que Richardson era pago para passar informações ao regime branco durante os anos do apartheid.
Imunidade
A Comissão de Reconciliação e Verdade, que investiga violações de direitos humanos durante o regime de segregação racial, deu imunidade ao atual vice-presidente sul-africano, Thabo Mbeki, e a cinco ministros do gabinete de Mandela.
A comissão pode eximir de responsabilidade pessoas envolvidas em crimes políticos. O órgão, porém, coordenado pelo Prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu, não tem poder para processar ninguém. A CRV pode apenas recomendar uma acusação formal.
A comissão deu imunidade também para Trevor Tutu, filho de Desmond Tutu, que está preso por atentado a bomba em 1989.

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