São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Aos 54, avô festeja 1ª aventura no mar

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Segundo a pesquisa da Comissão Nacional Independente sobre os Oceanos, 22,7% dos brasileiros nunca foram à praia. À convite da Folha, quatro pessoas deixaram de pertencer a essa turma anteontem, quando viram, arrebatados, o mar pela primeira vez.
"Nossa Senhora, é grande mesmo esse 'diacho'. E eu ia morrer sem botar os pés dentro dele", disse o cearense Francisco Alves Sobrinho, 54, antes de tirar os sapatos e correr para a areia.
Por opção do cearense, o ponto escolhido para a descoberta foi a Praia Grande, no litoral paulista. O lugar despertava a sua curiosidade, pois um parente havia visto o mar, também pela primeira vez, naquele local.
Assim que pôs os pés na areia, Alves Sobrinho imediatamente comparou o tamanho do mar ao açude de Tatajubas, que fica próximo à casa onde ele morava no município de Santana do Cariri, no sul do Ceará, cerca de 650 km das praias de Fortaleza.
"Ih, aqui tem uns dez Tatajubas", disse. "Dez nada, isso aqui é a água do dilúvio da arca de Noé."
Pequeno agricultor no Ceará, Alves Sobrinho mora em São Paulo na casa dos filhos. Chegou este ano, tinha vindo outras vezes, mas já pensa em retornar para Santana do Cariri. "Aqui eu não trabalho e estou doido para contar essa história do mar a meio mundo de gente", justificou.
"Água salgada"
O cearense que descobriu o mar aos 54 anos de idade foi à praia acompanhado do seu filho Francisco, 28, que levou a sua mulher, Maria Isidoro, 24, e a filhinha Vitória, de apenas 10 meses -todos marinheiros de primeira viagem.
"Ô água salgada da moléstia", disse Francisco, que mora no Parque São Rafael e trabalha como vigilante. Depois de entrar no mar, ainda amedrontado, a primeira coisa que ele fez foi comprovar que água era mesmo salgada.
Maria Isidoro demorou cerca de 40 minutos para "criar coragem" e enfrentar as pequenas ondas.
Como nunca havia ficado de biquíni ou maiô em público, preferiu, por timidez, tomar banho de short e camiseta.
Riu muito ao brincar com o marido e o filho no mar. Ao contrário dos acompanhantes, não se derramou em elogios ao novo conhecido.
"Foi até bom", disse Maria Isidoro, enquanto fotografava a sua filha. "Ela (a filha) deu sorte, viu o mar junto com o avô, mas é tão pequena que não conta."
Como crianças
O avô, Alves Sobrinho, parecia um menino que foge da mãe e começa a aprontar. Mexia na areia, jogava água no filho, verificava se o cabelo estava "duro" devido à água salgada, entrava no mar, voltava correndo para a praia...
O que ele não esquecia era o tal açude de Tatajubas, na sua terra. "O povo lá acha que tem grande coisa com aquela 'aguinha' de nada", disse.
Os descobridores gostaram tanto do passeio que não queriam voltar mais para casa.
Um acordo familiar foi selado ali mesmo, entre uma onda e outra: irão fazer um esforço para tentar uma nova visita antes da virada do ano.
No caminho de volta, de um restaurante, Francisco não se conteve e telefonou para os parentes. Queria contar logo a aventura. Ele gastou dois filmes na sua máquina de fotografias com os "recuerdos" da Baixada Santista.

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