São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997 |
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A praia é a praça do Rio
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
O mar não é Rosa, mas é Amado, é Bressane e é Rocha. O mar é o canavial em Cabral, que carrega o nome do descobridor. O mar é bossa nova, samba de enredo, tinta na tela e fotografia em preto e branco de Marc Ferrez. Na cidade de São Paulo não tem mar, mas houve um arquiteto que projetou um enorme arranha-céu, de cujo topo, dizia, seria possível avistá-lo. Não existe Brasil sem Minas e São Paulo, muito menos sem mar. E de todos os cultores os cariocas são insuperáveis. O mar é o Rio, espremido à sua orla pela serra. Dizem que foi o rei João 6º quem inventou, no Rio, o banho de mar. Se foi, fundou o espaço por excelência da socialização carioca. Do Leme ao Pontal, a praia é a praça do Rio, o ponto de encontro, o lugar da sedução, da conversa, do ócio e até mesmo do negócio. A praia não é apenas a natureza, mas a cultura. Divide-se numa geografia que acompanha a dos estratos sociais. Em Copa, ela é classe média, meia idade e turística. Em Ipanema é mais jovial e rica. Na Barra é o point, se for no Pepê. Mas cada uma delas tem suas subdivisões. Por exemplo: a "Bolsa de Valores" -faixa de areia e mar, em frente ao Copacabana Palace, frequentada por compenetrados homossexuais. O correspondente em Ipanema é a área em frente à rua Farme de Amoedo -que o horrível humor negro carioca chama de "Amoaids". E havia também a "Serra Pelada", quando os ricos ainda exibiam correntes e pulseiras de ouro em frente ao Country Club. Negros pobres -essa é uma regra sintomática- frequentam os cantos da praia. Mas podem também liberar insatisfações em arrastões, ainda que cariocas que eu confio digam que aquele famoso foi uma grande armação. O Rio teve, ainda, duas importantes praias para minha geração. As hoje famosas "Dunas do Barato" ou da Gal e o anexo Posto 9. A primeira era no "Pier", construído em Ipanema para o novo emissário submarino. Também reunia surfistas, pelas ondas que produzia. A outra era do lado, em frente ao hotel Sol Ipanema, ponto da esquerda, artistas e intelectuais. Marco Augusto Gonçalves é carioca. Texto Anterior: Minas é o oposto do mar Próximo Texto: Coreógrafo nem pisa na areia Índice |
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