São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Europa investiga supercontratos de TV

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Poderosos grupos de comunicação e entidades esportivas estão na mira da Comissão Européia.
A mais alta instância da União Européia, com base nas leis que garantem a livre concorrência de mercado criadas para garantir o processo de unificação do continente, está examinando os contratos de longa duração que vêm sendo firmados entre emissoras, federações e ligas profissionais.
O último documento a entrar na lista dos comissários foi o de cessão de direitos de TV da F-1 firmando entre a FIA, entidade máxima do automobilismo, e a Formula One Administration, empresa criada por Bernie Ecclestone para transformar a categoria em uma sociedade anônima.
Ao contrário do futebol, onde existem os jogadores, passíveis de transferências e, portanto, capazes de dar rentabilidade a acionistas, o grande chamariz do produto F-1 são os índices de audiência.
Não à toa, a FIA insiste, todos os anos, em divulgar fantásticos números de audiência acumulada, como 50 bilhões de telespectadores e cobertura extensiva em mais de 200 países, números que desafiam eventos como Olimpíadas e Copas do Mundo.
Vender a F-1 como grande vitrine global é, no fundo, demonstrar quão bom negócio pode ser comprar ações da categoria.
E, para tanto, é necessário garantir o controle sobre o veículo que conduz tudo isso, a televisão. FIA e FOA, então, assinaram um contrato de 14 anos sobre o tema.
O acordo entra em vigor em 1º de janeiro e não especifica quanto a própria FIA irá receber muito menos o quinhão merecido pelas equipes da categoria -Williams e McLaren são os maiores opositores ao projeto.
Especialistas do setor admitem que a longa duração do contrato pode ferir a livre concorrência, protegida por leis na Europa.
A exclusividade de um evento para determinado grupo ou emissora por prazos extensos estaria sendo entendida como concentração de poder econômico.
Admitindo-se que a indústria de entretenimento, na qual está inserido o esporte, é uma das de maior potencial no planeta, ter garantia de transmissão por vários anos é, de fato, um grande negócio.
Para piorar a situação de Ecclestone, a Comissão Européia anunciou nesta semana que também irá examinar todos os 60 contratos que a F-1 tem com emissoras de outros continentes.
A maioria deles tem duração de até cinco anos, como é o caso da TV Globo no Brasil. Alguns, porém, segundo a União Européia, têm duração de dez anos.
No caso do pay-per-view, eles chegam a 11 anos -com a emissora francesa Canal Plus, inclusive, tem abrangência planetária, exceção feita a alguns países europeus.
Futebol
Assim como a F-1, os contratos de direitos de TV das grandes ligas européias de futebol também estão sob investigação.
Na Holanda, por exemplo, um canal que trabalha no sistema pay-per-view obteve a exclusividade de transmissão dos jogos da primeira divisão local por sete anos.
Na Alemanha, campeonato nacional e jogos da seleção são de propriedade de canais a cabo.
Nos últimos anos, porém, restrições governamentais estão garantindo parcela das transmissões a TVs abertas, solução que vem sendo estudada por outros países.
Desde o último ano, também, contrato entre a federação inglesa e o magnata da comunicação Rupert Murdoch vem merecendo a atenção da Comissão Européia.
Todos, casos complexos, que envolvem cifras elevadas, a maioria na casa de centenas de milhões de dólares.
(JHM)

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