São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Em busca do contato

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A busca por ETs foi privatizada. Depois que o governo americano parou de financiar diretamente projetos de escuta de eventuais sinais de rádio provenientes de civilizações extraterrestres, um instituto privado assumiu a tarefa.
O trabalho do Instituto Seti foi retratado -com grau maior ou menor de fidelidade- em dois filmes recentes sobre ETs: "Contato" e "Independence Day". "Seti" é a sigla já consagrada em inglês para "Search for Extraterrestrial Intelligence" ("Busca de Inteligência Extraterrestre").
O principal projeto de rastreamento de sinais de rádio do espaço chama-se apropriadamente "Fênix", o pássaro mitológico que renasce das cinzas.
O projeto retoma uma pesquisa que tinha sido abandonada pela agência espacial norte-americana, Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço). Trata-se de examinar as regiões em torno de cerca de mil estrelas relativamente próximas parecidas com o Sol -ou seja, mil potenciais sistemas solares com planetas e tudo.
A busca pretende utilizar as maiores antenas de radiotelescópios do mundo. Há até um caráter de urgência na procura. Os pesquisadores do Instituto Seti acreditam que, em mais dez anos, a interferência de ondas de rádio de fontes da própria Terra poderá mascarar a capacidade de recepção de sinais mais fracos vindos do espaço.
No filme "Contato", a pesquisadora Ellie Arroway (interpretada pela atriz Jodie Foster) precisa sair em busca de financiamento depois que o projeto Seti foi cancelado. O filme foi baseado em um romance do astrônomo Carl Sagan.
O instituto faz questão de lembrar que, na vida real, aconteceu a mesma coisa e dá o nome do culpado -o senador Richard Bryan, que apresentou uma emenda em 1993 para cancelar o financiamento ao Seti no orçamento da Nasa de 1994.
O trabalho de ouvir os sinais de rádio do espaço foi então para esse instituto privado, fundado em 1984. A responsável pelo projeto Fênix é a astrônoma Jill Tarter. O personagem vivido por Jodie Foster foi baseado principalmente nela.
As observações foram reiniciadas em fevereiro de 95, usando o radio telescópio Parkes, localizado em New South Wales, na Austrália. Hoje está sendo usado o radiotelescópio de Green Bank, na Virgínia Ocidental (EUA).
Os mil sóis que o projeto está vasculhando ficam no máximo a 200 anos-luz de distância da Terra (um ano-luz equivale à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano, a uma velocidade de cerca de 300 mil quilômetros por segundo).
Os sinais de rádio são procurados entre as frequências de 1.000 a 3.000 MHz (megahertz). O objetivo é achar sinais com uma "banda" restrita, como se fossem uma "estação" específica no mostrador de um aparelho de rádio. Isso indicaria uma transmissão deliberada, "inteligente". Como cada canal estudado tem uma "banda" de apenas 1 Hz (um hertz), é possível examinar dois bilhões de canais para cada estrela (1 MHz equivale a 1.000.000 Hz).
Um terço das mil estrelas já foi pesquisado e, por enquanto, nada de ETs darem sinal de vida.
A busca de emissões de radiação eletromagnética extraterrestres começou a ser feita em 1960, quando Frank Drake fez o primeiro rastreio do céu. Nos anos 70, vários radioastrônomos vasculharam o céu em busca de ETs.
Um dos projetos mais antigos é de responsabilidade de cientistas na Universidade da Califórnia, em Berkeley: o Serendip (sigla para "Search for Extraterrestrial Radio Emissions from Nearby Developed Intelligent Populations", ou "Busca de Emissões de Rádio de Populações Inteligentes Desenvolvidas Próximas").
O nome desnecessariamente comprido é apenas para homenagear a palavra "serendipity", a faculdade de se fazer descobertas importantes por acidente. O projeto foi iniciado em 1979.
O Serendip é um experimento "caronista", aproveitando a maior antena de radiotelescópio do mundo, o Observatório Arecibo, em Porto Rico, com seu diâmetro de cerca de 300 metros.
O instrumento é um computador que analisa sinais de rádio recebidos pelo observatório. O modelo atual, o Serendip 4, examina 168 milhões de canais com faixa estreita (0,6 Hz) a cada 1,7 segundo.

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