São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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'O Homem das Galochas' é obrigatório

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

"O Homem das Galochas", espetáculo de Vladimir Capella sobre a vida e a obra de Hans Christian Andersen, deveria ser obrigatório para as crianças e os pré-adolescentes em São Paulo.
O texto é exemplar de um pensamento bem-formulado. O estilo varia em relação à moderna ficção infanto-juvenil à qual esse público está acostumado, de estratégias supostamente surpreendentes, efeitos de suspense, atmosferas de mistério, essas coisas.
Mais do que tudo, os diálogos de "O Homem das Galochas" podem servir de parâmetro sobre como lidar com questões de amor e morte, numa época em que a solidão da infância e da juventude estão em primeiro plano, com pais ausentes de casa.
As informações chapadas da TV apenas repetem o que tal público já conhece, desde as traições afetivas das novelas até a exposição à violência do mundo real.
"O Homem das Galochas" é uma peça lírica, em que a subjetividade é o fio condutor. A memória é o fator dominante do enredo.
Desde sua estruturação, como os personagens de Andersen, que entram e saem nos carros cênicos e a narrativa em flash-back, na fusão de um velho-menino, até o figurino que marca a época (ambos de J. C. Serroni).
A pergunta central da montagem parece ser: "O que eu faço com o que sinto?". A protagonista (Débora Duboc) demonstra que o ser humano pode ir até o fim para a realização de um propósito -como nos contos de fada e nas narrativas mitológicas.
Seu papel é o de uma mãe que sai à procura do filho morto, como Orfeu segue, cego de paixão, em busca (da visão) de Ofélia.
A peça ganha complexidade quando a mãe, que a todo custo quer o filho de volta, para satisfazer seu próprio desejo, tem a capacidade de decidir generosamente a favor do que seria melhor para ele e abdica de sua presença. Talvez isso seja o amor.
A temática amorosa é envolvida em uma atmosfera de sensualidade, no corpo jovem de belos atores seminus.
E o final, tal como nos contos de Andersen, marca a impossibilidade da felicidade e a presença da morte. A sereiazinha será sempre a espuma do mar. A vendedora de fósforos morrerá de frio.

Peça: O Homem das Galochas
Direção: Vladimir Capella
Com: Paula Sardá, Selma Luchesi, Débora Duboc, Gustavo Haddad e outros
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 256-2322)
Quando: sábados e domingos, às 16h
Quanto: R$ 15

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