São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Ricos e pobres divergem sobre clima

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

Os governos de quatro países (África do Sul, Alemanha, Brasil e Cingapura) lançaram no fim de semana o que está sendo chamado de "proposta-ponte" para tentar quebrar o impasse em torno da conferência do clima, ameaçada de total fracasso.
A proposta fica mais ou menos no meio do caminho das duas grandes fontes do impasse. Há divergências sobre a limitação da emissão de gases e sobre quem paga o custo dessa redução.
Metas
A UE propõe que a conferência fixe a meta de reduzir em 15%, até 2010, a emissão dos gases de estufa, em comparação com os índices de 1990. Os EUA querem apenas estabilizar o índice atual de emissões. Alegam que seria um grande avanço, pois se prevê que, sem medidas adicionais, o nível de gases aumentará 30% até 2010.
A "proposta-ponte" mantém a meta de redução de 15%, defendida pelos europeus, mas prevê uma "implementação flexível".
Quão flexível, fica para decidir durante a conferência.
Quem paga
Os EUA vêm insistindo em que países ricos ou pobres arquem com os custos das medidas necessárias para reduzir as emissões.
Só nos EUA, o custo está sendo avaliado em de 0,6% a 1% de seu PIB. Em dólares, dá algo entre US$ 50 bilhões e US$ 90 bilhões.
Os países em desenvolvimento se apegam aos acordos da Eco 92, a grande conferência mundial sobre ambiente realizada no Rio de Janeiro, que joga toda a carga dos custos sobre os desenvolvidos.
Nesse ponto, a "proposta-ponte" também fica mais perto das pretensões dos países em desenvolvimento. Defende um fundo para a limpeza ambiental, que seria formado unicamente por contribuições do mundo rico.
Mas abre as portas para que, no futuro, haja "um esforço verdadeiramente global, de acordo com as responsabilidades que são comuns, embora diferenciadas de país para país".
É uma alusão velada ao fato de que os grandes emissores de dióxido de carbono, o principal gás responsável pelo aquecimento do clima global, são os países ricos.
Só Estados Unidos e Canadá respondem por 28% dessas emissões, sete vezes mais do que todos os países da América do Sul juntos.
O documento-ponte pede ainda a adoção de medidas para transferir tecnologia ambiental e dinheiro para que os países pobres possam cumprir os compromissos que vierem a assumir agora.
As avaliações sobre o aquecimento global variam das apocalípticas às moderadas. A mais recente é do Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (Reino Unido): diz que, se as emissões de gás não forem limitadas, a temperatura aumentará entre 1 e 3,5 graus centígrados até 2010.

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