São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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OS NOMES DO ROSA

MARIANA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de 17 anos na frente das câmeras da Rede Globo, o jornalista Pedro Bial, 39, assume dois novos projetos: dirigir uma série-documentário sobre Guimarães Rosa e um longa-metragem baseado em cinco contos do autor mineiro.
"Os Nomes do Rosa" estréia amanhã no canal de TV paga GNT (Net/Multicanal). Os cinco episódios vão ao ar de segunda a sexta, sempre às 23h.
A série refaz os caminhos de Rosa pelo sertão mineiro, entrevista intelectuais brasileiros e internacionais e mostra um making of do primeiro filme de Bial, "Primeiras Estórias".
Também mostra momentos da vida do autor, como a infância, a formação em medicina, a carreira diplomática e a entrada para a Academia Brasileira de Letras.
Os dois projetos, orçados em R$ 3 milhões, não são inéditos na vida do jornalista. Antes de entrar na Rede Globo, Bial dirigiu alguns curtas e trabalhou com produções cinematográficas.
"Primeiras Estórias" estréia nos cinemas no primeiro semestre de 98. No filme, Giulia Gam, Walderez de Barros, Marieta Severo, Paulo José e Juca de Oliveira interpretam personagens de contos.
Também no início de 98, no mês de março, nasce o segundo filho de Bial, fruto de sua união com Giulia.
Projeto
Após oito anos como correspondente da emissora em Londres, atualmente Bial ancora o "Fantástico" e apresenta o "Espaço Aberto", programa sobre literatura no canal de TV paga Globonews (Net/Multicanal).
"Estava a fim de desenvolver um projeto que tivesse a ver com a cultura nacional e com temas que não fossem muito conhecidos ou divulgados. A idéia antiga era fazer um curta sobre Guimarães Rosa. O projeto acabou mudando, peguei vários contos para fazer um longa", diz Bial.
"A paixão pela literatura vem desde moleque, quando lia Monteiro Lobato", conta. "Acabei tendo um programa, mas sou só um leitor, não fiz faculdade de letras", brinca Bial.
Para fazer o roteiro da série, o jornalista contou com a ajuda de Ana Luiza Martins da Costa, que está fazendo uma tese sobre Rosa no Departamento de Comunicação e Semiótica da PUC de São Paulo.
"Para a tese, trabalhei em cima das cadernetas de viagem de Rosa que estão no IEB (Instituto de Estudos Brasileiros) da USP", diz Ana Luiza.
Encontros Nas gravações, a equipe seguiu as anotações das cadernetas e encontrou quatro dos sete vaqueiros que acompanharam a jornada do autor nos anos 50.
Entre eles, Manuelzão, personagem central do conto "Uma História de Amor (A Festa de Manuelzão)". O vaqueiro afirmou: "O sertão acabou".
Outro encontro que a roteirista destaca é o do vaqueiro Zico, sucessor de Manuelzão, que serviu de guia para a equipe.
Bial aproveita esses encontros para refazer algumas perguntas de Rosa como "urubu sente frio?" ou "boi toma amor?".
"Seguimos as anotações e fomos procurando esses lugares emblemáticos e tentamos reproduzir o olhar de Rosa. Fomos utilizando também a tradição da história oral do lugar. As pessoas do sertão são grandes contadores de casos", fala Ana Luiza.

Viagem No início do ano, Bial foi à Europa colher depoimentos de críticos e de pessoas que conviveram com o autor mineiro.
Na Alemanha, conversou com Meyer-Clason, tradutor de Rosa -sua obra será relançada no país em 98.
No Brasil, o jornalista entrevistou Antônio Callado, Antonio Candido, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Silviano Santiago, Benedito Nunes, Ferreira Gullar, entre outros.
Para Bial levar a obra de Rosa para vídeo e cinema não foi fácil. "Toda adaptação é complexa. Cada um faz suas escolhas. No meu caso, optei por não abusar do sotaque regional e mantive o texto original dos diálogos."

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