São Paulo, domingo, 30 de novembro de 1997
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Tudo em família

MARCELO MANSFIELD
ESPECIAL PARA A FOLHA

Lá pelos idos de 1963, antes do LSD e de Woodstock (ou seja, antes do mundo "entrar numas"), houve uma verdadeira febre de seriados e programas sobre o tema família.
Parece até que as cabeças pensantes da época, percebendo a revolução sexo-cultural que estava por vir, queriam manter até os últimos estertores o que restava de alegre e saudável na parentada.
O engraçado é que em seriados sobre família todo mundo mora junto, não importando o grau de parentesco e muito menos o por quê.
Tudo funcionava, ninguém brigava, a filha mais velha era chamada de princesa e a mais nova, de pequenina. Não se fazia sexo, as camas eram separadas. Antes de dormir, Margareth, a mulher prestimosa, dava um copo de leite para o sábio marido, enquanto o resto do país pensava que ela daria outra coisa.
Uma década depois, veio, na minha opinião, a mais curiosa das famílias, a "Família Buscapé".
Depois de atirar num gambá e errar, Jethro Champett (ou cá pra nós, Zé Buscapé) acerta num poço de petróleo. E fica milionário da noite para o dia. Vai para Beverly Hills com toda a família, o que inclui mãe, sobrinho, a sobrinha Juvenilda e a irmã.
Na mansão comprada com o dinheiro fácil que o solo americano dá, eles vivem como moscovitas, vestindo suas velhas roupas sujas de lama e ridicularizando os ricos bem-nascidos de Boston, enriquecidos com o negócio do cinema. Os comunistas e os hippies deviam adorar.
No Brasil, "Papai Sabe Nada" e "Família Trapo" cumpriram suas partes.
A deliciosa vida em família dos anos 60 acabou tragicamente, quando outra família, a de Charles Manson, cometeu uma série de crimes horríveis, às vésperas dos anos 70. A partir daí, as famílias deram lugar aos policiais, às panteras, aos homens do FBI.
Mas quem não se lembra até hoje da musiquinha que dizia "essa é a história da Família Buscapé"?

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