São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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FHC diz que alertou sobre riscos dos capitais voláteis

Em Londres, presidente reclama de que não teria sido ouvido

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O presidente Fernando Henrique Cardoso desembarcou ontem em Londres reclamando de não ter sido ouvido na sua pregação sobre os riscos decorrentes do excesso de capitais voláteis que circulam atualmente pelo mundo.
"Se pusessem em prática as idéias que propus já há mais tempo...", comentou o presidente, ao responder a uma pergunta da Folha sobre eventuais novas idéias para evitar o que ele próprio chamou de "situação nova no mundo", em alusão a esses capitais.
FHC chegou ao aeroporto de Heathrow às 22h15 (20h15 em Brasília), com um clima londrino: chuva fina e frio de 2 graus.
No rápido contato com jornalistas, o presidente deu a tônica do que deve ser o seu discurso nos encontros com o primeiro-ministro Tony Blair e com o empresariado: "Agora está mais do que oportuno voltar ao tema da volatilidade de capitais, a que eu há tantos anos me refiro".
FHC lamentou que não tenham sido postas em prática nem as suas próprias sugestões a respeito nem a de outros governantes.
Acrescentou: "O BIS (Banco de Compensações Internacionais, uma espécie de banco central dos bancos centrais) já levantou uma série de questões, colocou uma série de requisitos para a regulamentação do fluxo de capitais e, infelizmente, essas sugestões não têm tido consistência maior".
FHC disse que levantaria o tema em seu encontro com Blair. "Conversarei sobre a necessidade de ampliação do conjunto de países que se preocupam com a questão."
É uma alusão ao fato de que tentativas anteriores de seduzir o governo britânico deram em nada, porque os antecessores conservadores de Blair não queriam nem ouvir falar em qualquer tipo de controle de capitais.
FHC tem, de fato, desde o início de sua gestão, defendido medidas para evitar que o US$ 1,3 trilhão que cruza fronteiras todos os dias ponha de joelhos os bancos centrais de qualquer país.
A crise asiática forneceu novas evidências de que "é necessário que haja avanços maiores nos diversos países e nas organizações internacionais que cuidam da matéria", disse o presidente.
Afirmou ainda que só houve "mudanças significativas" depois de algumas reuniões do G-7, o grupo dos sete países mais ricos do mundo, e da "insistência de vários países, entre os quais o Brasil".
Citou como exemplo de "mudanças significativas" a rapidez com que o FMI (Fundo Monetário Internacional) está atendendo os países da Ásia.
"Espero poder ajudar modestamente na discussão, aprendendo e, também, não ensinando, mas dando sugestões", completou FHC, antes de embarcar no Jaguar com a bandeira do Brasil no capô que o levaria até a embaixada brasileira, onde dormiu ontem.
FHC hoje se instala no Palácio de Buckingham, residência real. Antes, fala na Confederação das Indústrias Britânicas. "Ouvirão de mim palavras de confiança e de esclarecimento", antecipou.

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