São Paulo, terça-feira, 2 de dezembro de 1997
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Daniela Mercury 'descobre' Portugal

LUIZ ANTÔNIO RYFF
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

A mão se inverte. Quase 500 anos depois de avistarem a Bahia e ocuparem o Brasil, os portugueses estão sendo conquistados por uma baiana: Daniela Mercury.
Desde os Mamonas Assassinas a música brasileira não tinha um sucesso igual em Portugal.
Disco duplo de platina, a cantora baiana deve ser um dos quatro ou cinco artistas que ultrapassarão a marca dos 100 mil discos vendidos em 97 no país -os outros devem ser o português Paulo Gonzo, o italiano Andrea Bocelli, o grupo luso Delfins e as Spice Girls.
Carlos Pinto, presidente da Sony portuguesa, espera que Daniela e seu "Feijão com Arroz" ultrapasse Gonzo, que vendeu 180 mil discos.
Por enquanto, o CD já vendeu 90 mil cópias, sendo que 80 mil nos últimos quatro meses, quando a cantora chegou ao primeiro lugar nas paradas. E ela mantém o segundo posto há oito semanas.
O CD deixou os portugueses doidos para descobrir o que que a baiana tem. Nessa primeira turnê pelo país foi preciso dobrar o número de shows previstos. Eram três, passaram a seis (três no Porto e os outros em Lisboa). Os ingressos se esgotaram com quase um mês de antecedência.
"A música brasileira teve grande sucesso nos anos 80. Mas era restrita a um público adulto. Os jovens que gostam de Daniela ouvem Oasis e outros grupos de rock", diz Pinto.
No primeiro dos três shows realizados em Lisboa, no sábado, no Coliseu, isso se comprovou. O público era majoritariamente jovem.
"A música é alegre, tem movimento. E a voz dela é boa. Curtimos bué (gostamos muito)", disse Eurico Mota, 21.
Às vezes o público é jovem demais. "Acho ela gira (legal). Dança bem, mexe-se muito e tem a cara gira (bonita)", diz Sara Faria, 8.
Mas havia até sexagenários na platéia. "Sambei um bocadinho", disse Amélia Ferreira, 65, 13 filhos.
Bahia
Daniela canta a Bahia -especificamente o Carnaval baiano, do qual ela faz apologia. Pelo visto funciona. "Este ano estive em Recife, mas o que quero é conhecer Salvador", diz Margarida Alegria, 20, uma das dezenas de pessoas que ficaram do lado de fora do Coliseu no sábado.
A reação dos portugueses comprova que não apenas "o baiano branco e rico, ou de classe média, quer dançar como negro", como ela diz. "Temos uma coisa mais solta e alegre do que os europeus", avalia Daniela.
Ela acha que a língua ajuda. Mas até certo ponto. "Ritmicamente é como em qualquer outro lugar da Europa", avalia.
A simplicidade de sua música é outro ponto que ajuda a receptividade, segundo ela. "Não acho ruim ser simples. Simplicidade não quer dizer mediocridade", diz Daniela , que não gosta de ver sua música reduzida a algo para quadris e pés. "Eu sofro com isso. Minhas músicas têm letras interessantes, mas algumas pessoas não percebem porque ela é dançante."
Ela já recebeu convite da MTV e pensa em fazer um acústico. Mas não agora. "Quem sabe as pessoas prestam mais atenção nas letras?"

O jornalista Luiz Antônio Ryff viajou a convite da gravadora Sony.

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