São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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PT e Ciro esquecem FHC e trocam críticas

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O entendimento entre PT e Ciro Gomes (PPS) é difícil até num eventual segundo turno da eleição presidencial de 98. A prévia dos ataques mútuos foi feita na noite de anteontem, em debate entre Aloizio Mercadante (PT) e Ciro em São Paulo.
Mercadante, um dos vice-presidentes do PT, bateu em Ciro e recebeu troco, para desconforto dos que ainda sonhavam com uma aliança da esquerda com a centro-esquerda num eventual segundo turno contra o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Nem o recente crash nas Bolsas, que teoricamente abriu o flanco do governo e aumentou as chances da oposição, serviu para esconder que PT e PPS devem começar a campanha de 98 de olho no outro.
"Ciro foi o responsável pela abertura comercial irresponsável", disse Mercadante no debate promovido pela Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania (Cives), entidade que reúne empresários petistas.
Ciro devolveu apontando o "fundamentalismo" petista hostil às privatizações e, nesse ponto, deixou claro o abismo entre as duas propostas que seus partidos vão oferecer ao país em 98.
Mesmo reconhecendo que sua proposta de vender estatais para diminuir o estoque da dívida pública não é suficiente para resolver o problema, até porque faltam poucas estatais de peso para privatizar, o ex-ministro insistiu na defesa da posição e não aceitou o dogma petista de lutar pela estatização dos "setores estratégicos".
"O que pode ser estratégico num país sem estratégia?", indagou o pré-candidato do PPS. Ex-ministro da Fazenda já no Plano Real, que hoje é a principal peça de campanha de FHC, Ciro também bateu duro em outra idéia fixa petista: a reforma agrária.
"Não há como assentar um milhão de famílias", disse, considerando irreal gastar RS 14 bilhões no projeto, segundo seus cálculos.
Mercadante, que durante todo o debate tentou associar Ciro ao modelo vigente, não perdeu a chance de carimbar de "neoliberal" o adversário.
"Não queremos pequenos ajustes no modelo neoliberal e não aceitamos que o PPS finja que está aqui, mas vota do lado de lá", disse o dirigente petista. Na campanha, o PT quer se apresentar como a única oposição de fato.
Sobraram, ainda, afirmações hostis de ambas as partes. Ciro disse que a proposta petista de alongar o perfil da dívida é "simplista". Mercadante declarou que ia "dar três livros de economia" ao adversário, insinuando fragilidade teórica do ex-ministro.

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