São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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MST invade o gabinete de Jungmann

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Trabalhadores rurais sem terra de áreas próximas ao Distrito Federal invadiram ontem o edifício Palácio do Desenvolvimento, no Setor Bancário Norte, onde funcionam o Ministério Extraordinário de Polícia Fundiária e a presidência do Incra, tomando parcialmente três andares.
A invasão durou quatro horas e meia e deixou como saldo uma porta de madeira do gabinete do ministro Raul Jungmann, no 18º andar, arrancada à força. Não houve feridos. Jungmann ficou isolado em seu gabinete durante toda a invasão.
Os cerca de 500 sem-terra de Minas e Goiás apresentaram uma pauta de reivindicação com dez itens, que, na avaliação do presidente do Incra, Milton Seligman, vinham sendo cumpridos "em parte" há cinco meses.
Os sem-terra querem agilização no parcelamento de 12 acampamentos -existem 61 na região do Entorno de Brasília. Também pedem a desapropriação de áreas para novos assentamentos e a liberação de sementes e de créditos.
Jungmann classificou a invasão como "um ato covarde, agressivo e desrespeitoso", que, para ele, "rompe o diálogo e o trabalho feito até aqui" pelo governo junto ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). A coordenação nacional do MST foi quem organizou a invasão.
Jungmann anunciou que vai processar civil e criminalmente os responsáveis pela invasão: "Os danos serão apurados e os invasores serão responsabilizados".
O ministro disse ainda que, nos próximos dias, vai apresentar medidas que visem preservar a integridade da autoridade e dos edifícios públicos. Ele não quis adiantar quais seriam essas medidas.
Às 14h55, os sem-terra decidiram deixar os três andares (18º, 20º e 22º). Desceram as escadas de mãos dadas, mas tentaram permanecer no saguão. Só saíram do prédio às 15h30, depois que uma reunião acertada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e por parlamentares com o presidente do Incra foi ameaçada de não se realizar.
Após a reunião, os sem-terra conseguiram a promessa do Incra de apresentar, às 10h de hoje, um cronograma para cumprir parte das propostas. Os sem-terra prometeram continuar acampados em torno do prédio até o horário.
Filme retido
A Polícia Militar foi acionada pela segurança do ministério às 10h47, quando a porta do gabinete de Jungmann já havia sido arrancada. O comandante-geral da PM, coronel Aníbal Person Neto, disse que a corporação "não sabia" da invasão, apesar de os sem-terra estarem na cidade desde as 7h.
"Eles entraram sub-reptícios (disfarçados)", disse o comandante. Por causa da ação da PM, apenas parte dos trabalhadores conseguiu entrar no prédio: 60, segundo a PM, e 100, segundo os sem-terra.
Logo após a invasão, um incidente envolveu o fotógrafo Luiz Roberto da Silva, do Incra, que registrou parte da invasão. Ele ficou retido por cerca de meia hora pelos sem-terra no auditório, que funciona no 22º andar. Para ser liberado, teve de entregar o filme em que registrou a derrubada da porta.
Até o início da noite, apesar de o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) ter se comprometido a devolver o filme, o Incra não o havia recebido.
Após o problema com a porta do gabinete, os invasores se mostraram mais calmos. Tomaram café na copa do gabinete do ministro e almoçaram em um bandejão no 23º andar -pagando pela comida.

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