São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MST invade sede de ministério e do Incra

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Trabalhadores rurais sem terra do Entorno do Distrito Federal (formado por 42 municípios de Goiás e Minas Gerais) invadiram ontem o Ministério da Política Fundiária e a presidência do Incra.
Os sem-terra chegaram a arrancar a porta de um corredor que dá acesso à sala do ministro Raul Jungmann, momento em que foram impedidos pela segurança do prédio e pela Polícia Militar de invadir a sala do ministro.
A invasão, que durou quatro horas e meia, terminou com a perspectiva de negociação, hoje de manhã. Jungmann ficou em sua sala durante a invasão.
Ao todo, havia 500 sem-terra no local. Segundo a PM, 60 deles entraram no prédio. Segundo o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que comandou a invasão, entraram 100.
Os sem-terra apresentaram pauta de reivindicações com dez itens. Segundo o presidente do Incra, Milton Seligman, essa pauta vem sendo atendida em parte há cinco meses.
Os sem-terra querem apressar o parcelamento de 12 dos 61 acampamentos do Entorno do DF. Também reivindicam a desapropriação de várias áreas para novos assentamentos e a liberação de sementes e de recursos.
Jungmann classificou a invasão de "ato covarde, agressivo e desrespeitoso", que, para ele, "rompe o diálogo e o trabalho feito até aqui" pelo governo sobre o MST.
O ministro anunciou que vai processar os responsáveis pela invasão. "Os danos serão apurados e os invasores serão responsabilizados por isso", afirmou.
Disse ainda que, nos próximos dias, vai apresentar medidas que visem preservar a integridade de autoridades e dos edifícios públicos. Ele não quis adiantar quais serão essas medidas.
Às 14h55, os sem-terra decidiram deixar os três andares que haviam invadido. Desceram as escadas de mãos dadas e tentaram permanecer no saguão, mas saíram do prédio para que não fosse cancelada reunião de conciliação com Seligman, negociada por políticos.
Após a reunião, os sem-terra conseguiram que o Incra apresente, às 10h de hoje, um cronograma para atender parte dos seus pedidos. Os sem-terra decidiram acampar em torno do prédio até lá.
A Polícia Militar foi acionada pela segurança do ministério às 10h47, quando a porta do corredor foi arrancada.
O comandante-geral da PM, coronel Aníbal Person Neto, disse que a corporação não sabia da invasão, apesar de os sem-terra estarem na cidade desde as 7h.
"Eles entraram sub-reptícios (disfarçados)", disse o comandante. Por causa da ação da PM, apenas parte dos trabalhadores conseguiu entrar no prédio: 60, segundo os policiais, e 100, segundo os sem-terra.
Logo após a invasão, o fotógrafo Luiz Roberto da Silva, do Incra, ficou retido por cerca de meia hora pelos sem-terra no auditório, que fica no 22º andar do edifício. Para ser liberado, teve de entregar o filme em que registrou a derrubada da porta.
Até o início da noite, o Incra não havia recebido o filme de volta, apesar de um dos negociadores, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), ter se comprometido a devolvê-lo.
Depois de derrubarem a porta, os invasores tomaram café na copa do gabinete do ministro e almoçaram no bandejão do 23º andar do prédio. Eles pagaram a conta.
Essa foi a terceira invasão anunciada este ano que se concretizou em Brasília, sem ações preventivas dos órgãos oficiais e privados.

Texto Anterior: Comissão adia julgamento do caso Iara
Próximo Texto: Ministro critica ação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.