São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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Tony Blair e marketing andam de mãos dadas

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Não há nada mais suspeito neste mundo de Deus do que unanimidades. No quesito primeiros-ministros da Europa, uma nova unanimidade, Tony Blair, veio preencher a vaga deixada pelo patife espanhol Felipe González.
Pois, por mim, Blair deveria ser trancafiado na Torre de Londres e açoitado duas vezes ao dia até pedir perdão de joelhos pelas barbaridades verbais que vem cometendo desde que assumiu o 10 Downing St.
Não bastassem suas gordurosas declarações à imprensa sobre a nobreza e santidade daquela bisca de princesa que morreu no túnel em Paris; não fosse suficiente sua mulher com nome de toy poodle, a pedestre Cherie, ter se deixado flagrar por metade dos fotógrafos do reino trajando roupas íntimas na porta de casa, agora Blair resolve completar a decoração do bolo com uma cereja de deixar as bombas do Exército Republicano Irlandês parecendo inofensivas biribas.
O primeiro-ministro inglês acaba de declarar guerra a todos os símbolos que fazem da Grã-Bretanha a mais reluzente de todas as estrelas que ornam a bandeira azul da Comunidade Européia.
Sinta só o teor do discurso do "muderno" Tony Blair: "A imagem da Inglaterra, que costumava ser a do chapéu-coco e calças listradas, característica de um tempo antigo, formal e chato, foi substituída por algo muito mais dinâmico e aberto, muito mais avançado".
"Formal e chato"? Pois, parafraseando Ricardo 3º, eu grito a plenos pulmões: Meu reino por um táxi londrino!
Como o leitor civilizado já deve estar sabendo, o táxi londrino, que vem a ser o meio de transporte mais confortável e fácil de manobrar do mundo, foi substituído pela turminha jovem que compartilha das idéias de Blair por um modelo mais "continental".
O ônibus de dois andares também já dançou.
Agora, Blair acaba de tornar pública sua intenção de se livrar da rigidez do chapéu-coco, dos capacetes dos policiais, das cabines telefônicas vermelhas e das caixas vermelhas que os parlamentares usam para transportar documentos.
Ainda bem que a rainha Elizabeth 2ª é também chefe da igreja da Inglaterra.
Caso contrário, em mais um lance de marketing, quem sabe Tony Blair não manifestasse a intenção de trocar a soberana por uma das Spice Girls?

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