São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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Bernardo Élis retratava o Brasil profundo

DA REPORTAGEM LOCAL

Bernardo Élis Fleury de Campos Curado, contista, romancista e acadêmico morto no último domingo, aos 82 anos, em consequência de um câncer, dizia que sua imaginação era tanta que, quando criança, imaginava serem todas as festas cívicas -como as que celebravam a República- uma homenagem pessoal.
Nascido em uma família da classe média de Goiás -seu pai era comerciante e poeta-, Élis começou a escrever aos 12 anos. No período, produzia histórias -ele mesmo contava- que nada mais eram do que plágios de autores que considerava seus mestres.
Sua obra, de certa maneira, se manteve estreitamente ligada a esse momento inicial. Élis gostava de dizer que era um escritor regionalista, atento aos acontecimentos na vida das pessoas que habitavam o Brasil profundo.
Repetidamente fazia de meninos personagens. As crianças de uma vida "na província", de que o livro "Apenas um Violão" (ed. Nova Fronteira) é um exemplo e "Ermos e Gerais", publicado em 1944, quase uma declaração de princípios.
Sobre esse livro, o escritor Mário de Andrade, em uma carta enviada a Élis, disse que revelava "o dom de impor na gente, de evidenciar a 'sua' realidade, pouco importando que essa 'sua' realidade seja ou não o real da vida real. Enfim: jamais a gente percebe nos escritos de você aquele ranço de 'documento', tão prejudicial à ficção legítima".
Alceu de Amoroso Lima, na década de 60, decifraria Élis pelas pistas dadas por Mário muitos anos antes: "O autor é mais um elemento marcante da chamada geração de 45, isto é, do terceiro momento do modernismo, quando este já perdera seu caráter individualista ou cosmopolita para se integrar na realidade brasileira mais autêntica".
Política
Mas, além do autor, há também um Bernardo Élis da vida pública, iniciada quando trabalhou como escrivão de delegacia de polícia. Foi secretário da prefeitura de Goiânia. Foi ainda prefeito da cidade por duas vezes.
Élis chegou à Academia Brasileira de Letras em 23 de outubro de 1975. Disputou a vaga com o ex-presidente Juscelino Kubitschek e venceu por apenas dois votos.
Quando soube do resultado, disse que "era apenas um escritor" e se apresentava sem qualquer outro tipo de vantagem. Foi a primeira derrota de Kubitschek em uma eleição.

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