São Paulo, quarta-feira, 3 de dezembro de 1997
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Grappelli era um dos últimos românticos do jazz

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O jazz perdeu um de seus últimos românticos. Durante quase 70 anos de carreira, Stephane Grappelli imprimiu a delicada sonoridade de seu violino num gênero musical marcado pela crueza dos saxofones e trompetes.
Nesse aspecto, o francês não foi o único. Outros pioneiros violinistas, como Joe Venuti e Eddie South, também deixaram suas contribuições ao jazz.
Porém nenhum deles se aproximava do grau de lirismo e sensibilidade musical de Stephane Grappelli.
Repertório
Quem conhece pelo menos parte da enorme discografia de Grappelli sabe que baladas e canções-standard, como "Star Eyes" (Raye e DePaul), "Time After Time" (Styne e Cahn) e "Makin' Whoopee" (Donaldson e Khan), davam o tom a seu repertório.
Porém, no caso de Grappelli, tocar essas canções tinha um sentido diferente dos inúmeros discos de "standards" que pululam hoje por aí, gravados por músicos de jazz bem mais jovens ou nem tanto.
Grappelli passou décadas burilando essas canções em seus improvisos. Por isso, atingia um grau de originalidade e sinceridade em suas versões que praticamente o transformavam em co-autor dessas músicas.
É difícil não se emocionar ao ouvi-lo interpretar temas mais tristes e melancólicos, como sua composição "La Chanson de la Rue", incluída no álbum "The Reunion" (MPS/PolyGram, 1977).
Esse é, por sinal, um dos melhores discos gravados por Grappelli. Marcou seu inspirado reencontro com o pianista britânico George Shearing, três décadas depois de terem formado um grupo, durante a Segunda Guerra.
Em "Flamingo" (Anderson e Grouya), o violino de Grappelli chega a chorar, literalmente. Revela assim influências da música cigana, absorvidas durante a parceria com o guitarrista Django Reinhardt, ainda nos anos 30.
Parcerias
Aliás, é surpreendente o número de discos que Grappelli gravou em parceria com outros jazzistas de peso, como Oscar Peterson, Barney Kessell, Hank Jones, Phil Woods, Larry Coryell ou McCoy Tyner, sem falar em violinistas como Jean-Luc Ponty, Joe Venuti ou Yehudi Menuhin.
Ligando-se ao romântico Grappelli, alguns desses músicos tentaram reencontrar o lirismo que o jazz quase esquecera.

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