São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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Médica teve de vencer resistência

BETINA BERNARDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A ginecologista Maria C. S., 31, é uma para as quais seus colegas costumam encaminhar casos de aborto legal. Ela trabalha em um dos oito hospitais públicos do país que já fazem esse tipo de cirurgia.
Maria preferiu não ter seu nome completo publicado, por temer discriminação em decorrência do "desconhecimento do assunto".
"Eu trabalho há oito anos no hospital e estou no programa de atendimento integral à mulher há dois anos. O problema é que ninguém se dispõe a ajudar. Chega uma vítima de estupro para interromper a gravidez, ninguém se habilita, encaminha para a médica que faz isso, que sou eu."
Ela afirma que, no início, teve uma certa resistência a participar do programa. "Só depois é que a gente vê o quanto é importante que alguém se dedique a isso."
A delegacia da mulher da cidade onde fica o hospital em que Maria trabalha atendeu, em dois anos, cerca de 200 casos de estupro. Resultaram em gravidez 28 dos casos. O aborto foi feito em dez.
"Não sou contra a vida. Fizemos interrupções para salvar a vida da gestante." A médica diz que a simples aprovação do projeto não será suficiente para mudar a mentalidade dos médicos. Ela diz que os médicos ficam desconfiados.
"Acham que a paciente inventa, mas há entrevistas e exames. Eu e a equipe sempre tentamos convencer a paciente a desistir do aborto."
(BB)

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