São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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As pequenas empresas e a tecnologia

LUÍS NASSIF

Não há mercado de tecnologia no país. O tripé acadêmicos-instituições de pesquisa-empresas privadas não funciona. A maioria das empresas brasileiras não dá importância ao desenvolvimento de tecnologia; a maioria dos pesquisadores, também não.
Maurício Corrêa, da Faculdade de Engenharia da Unicamp, conseguiu um acordo com o PTW (Instituto de Engenharia de Produção e Máquinas-Ferramentas, da Universidade Técnica de Darmstadt, Alemanha). Montou-se um projeto de US$ 600 mil. Os alemães entraram com US$ 550 mil, bancados por empresas como a Opel, a Mercedes-Benz e a Porsche. A contraparte brasileira seria de US$ 50 mil, dedutíveis do Imposto de Renda da empresa patrocinadora. Corrêa listou 24 empresas, às quais o projeto poderia interessar. Dançou.
Evandro Afonso do Nascimento, professor do departamento de química da Universidade Federal de Uberlândia, lembra que, após 25 anos de sua implantação, a indústria petroquímica brasileira não logrou desenvolver nada em termos de tecnologia e desenvolvimento de processos.
André Ramos, candidato a PhD do Departamento de Indústria e Sistemas de Engenharia da Virginia Tech, desenvolve pesquisas em um setor de importância estratégica para a consolidação da posição competitiva do Brasil. No entanto, encontrou grandes dificuldades para conseguir uma colocação permanente junto à iniciativa privada e às universidades.
Por outro lado, empresas que procuram a universidade para acordos de pesquisa acabam esbarrando em inúmeras questões burocráticas e em processos de decisão extremamente lentos.
Pequenas grandes
Presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), José Augusto Marques conta o caso de um empresário brasileiro que solicitou de uma empresa alemã de reputação internacional representá-la no Brasil. Quando chegou a Munique, em vez de um edifício monumental, descobriu uma casa composta por cinco técnicos de alta especialização e três funcionários administrativos. A contabilidade era feita fora e a comercialização dependia apenas de um micro com placas fax e um computador ligado na Internet. E, obviamente, da cabeça globalizada de seus donos e do alto conteúdo tecnológico dos equipamentos.
Qualquer política tecnológica deveria ter por alvo a criação desse universo de pequenas empresas de alto conteúdo tecnológico -a exemplo do que é feito pela Fatec, de São Carlos.
Fernando Chiaradia Fernandes saiu da universidade, trabalhou em uma indústria brasileira, protegida pela reserva de mercado da informática. Depois que a indústria fechou, com o fim da reserva, ele continuou pesquisando o mesmo componente em uma microempresa. Tem cinco funcionários de nível técnico e ajuda a economizar US$ 300 mil por ano, em importações.
"É pouco, mas é um começo", diz ele. "Acho que a universidade deveria modestamente se interessar pela pesquisa de componentes essenciais de coisas que já existam, que sejam amplamente usadas e que representem um valor significativo de importação, visando viabilizar o empreendimento de pequenos negócios que seriam oferecidos aos alunos como uma outra opção à carreira de pesquisador ou professor."
Alunos empreendedores
Alguns dos institutos da Faculdade de Engenharia de Itajubá passaram por mudança completa no currículo, visando despertar nos estudantes uma postura mais empreendedora. Procura-se incutir nos alunos, inclusive, a idéia de realizarem pelo menos uma viagem internacional durante o curso, para adquirirem traquejo para lidar com alfândega, línguas etc., conta Paulo Sizuo Waki, pró-diretor de pesquisa e pós-graduação da Escola Federal de Engenharia da cidade.
São idéias esparsas ainda, que carecem de uma coordenação mais ampla, só possível no momento em que o Ministério da Ciência e Tecnologia colocar todas as partes da mesa para conversar. E pensar seriamente em alterar a estrutura de poder nas universidades e institutos de pesquisa.
Internet
Para quem tinha dúvidas sobre os ganhos de produtividade proporcionados pela Internet: a série de colunas que venho escrevendo sobre pesquisa e tecnologia baseiam-se em mais de 90 e-mails recebidos de cientistas brasileiros de diversas partes do mundo, com análises e sugestões sobre o tema.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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