São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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Stone faz ficção de sua aventura no Vietnã

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Guerra do Vietnã está de volta. Não por meio das imagens de Oliver Stone, o cineasta, mas das palavras de Oliver Stone, o escritor.
E também não do Oliver Stone de hoje, rico, famoso e reconhecido internacionalmente pela direção de filmes como "Platoon" e "Nascido em 4 de Julho", mas do Oliver Stone dos anos 60, quando vivia o final de sua adolescência.
Trinta anos depois de escrever "A Child's Night Dream" (Um Sonho de Criança), a obra acaba de ser lançada nos Estados Unidos.
"Eu comecei a escrevê-la quando tinha 19 anos, em 1966, e estava em Guadalajara, no México. Fui terminar no ano seguinte, já de volta a Nova York", contou o cineasta. "Só que na época, você sabe como é, não era famoso, não era conhecido de ninguém, e nenhuma editora quis publicá-la."
Passadas mais de duas décadas, Robert Weil, um editor de NY, assistiu a uma entrevista do diretor em que ele citava o manuscrito.
"Ele então me escreveu, pedindo para que eu lhe mandasse meus rascunhos, ou o que sobrara deles. Foi o que fiz. Enviei-lhe uma bagunça, tudo fora de ordem. Como ele conseguiu reconstruir o que escrevi, é um mistério, mas fez um trabalho excepcional."
Na obra, o cineasta cria um Oliver Stone fictício, voluntário na Guerra do Vietnã. Ele mistura, porém, muitos dados de realidade, que fizeram parte de sua vida durante a adolescência.
Em setembro de 1967, Stone foi lutar no Vietnã, exatamente no dia em que completava 21 anos. "Quando o ser humano depara com a morte, ele começa a questionar a própria vida, os valores fundamentais de sua existência. O Vietnã marcou minha geração, porque colocou o jovem, mais do que nunca, diante das questões centrais da humanidade."
Dois anos antes, em 1965, Stone já estivera no Vietnã, mas lecionando numa escola católica. Na ocasião, trancara sua matrícula em Yale, uma das principais universidades norte-americanas.
Quando retornou aos Estados Unidos, em 1966, tentou prosseguir os estudos, mas, com a idéia fixa de escrever o livro, acabou mesmo deixando Yale para trás. A frustração de não ter conseguido publicá-lo foi, aliás, um dos motivos para sua decisão de voltar ao Vietnã, agora como soldado.
Tendo deixado a literatura de lado, quando retornou a Nova York, em 1968, decidiu transmitir à humanidade um pouco do que vivenciou tornando-se um cineasta. Entre 1969 e 1971, acabaria voltando aos estudos e cursando cinema na New York University.
O inconsciente
Em "A Child's Night Dream", Oliver Stone opta por frases curtas, diretas e, muitas vezes, confusas. "Escolhi esse estilo porque era assim que eu me sentia e é assim que muitos jovens se sentem. Eu vivia um estado de confusão mental, como se estivesse sonhando."
Para o cineasta, a obra reflete a insegurança em que foi criado, que culminou com a separação de seus pais, em 1962. Para se refugiar dos problemas, uma das estratégias de Stone era criar um mundo de fantasia para si próprio.
Não é à toa que ele diz que, em várias ocasiões de sua vida, sentia-se novamente uma criança de cinco anos, lutando para se manter de pé numa das escadas rolantes da Bloomingdale's, famosa loja de departamentos de Nova York.

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