São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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Reflexões sobre aquela palavra de quatro letras

DAVID DREW ZINGG
EM SAMPA

É aqui que entra meu velho amigo Bruce Jay Friedman. Vocês o conhecem de seus livros best seller, como "A Father's Kisses" ou "A Lonely Guy's Book of Life".
O editor pediu a Friedman que escrevesse alguma coisa em primeira mão sobre a palavra de quatro letras.
Depois de constatar rapidamente que não tinha nada contra o assunto, Friedman disse que lhe parecia um pouco pessoal demais para ele próprio escrever, e que havia outras pessoas com mais jeito para colocar a coisa no papel. Depois, porém, resolveu tentar.
O resultado saiu um pouco como os cortes de um roteiro de cinema:

"Fizeram amor demorada e ginasticamente. Usaram vários artefatos motorizados e, a pedido dela, ele a amarrou à cama como echarpes e a espancou com um salmão que tinha sido posto de lado para o jantar. Mesmo assim, ela saiu chateada, dizendo: 'Nunca me acontece nada de pervertido'."

"Quando o livro saiu, dando os nomes dos homens com quem ela dormira, ele se sentiu aliviado por não ter sido mencionado. Depois, pouco a pouco, o desapontamento foi crescendo nele."

"Ele insistiu que ela o comparasse a alguns de seus outros amantes. Após alguma reflexão, ela disse que ele era o mais 'minucioso', o que, é claro, não era a resposta que ele queria ouvir."

"Ele só a encontrara uma vez e apaixonara-se por ela imediata e insanamente. Mergulhado numa crise doméstica, telefonou para ela de um rinque de patinação nos subúrbios, enquanto suas filhas davam voltas pelo gelo. Ela concordou em encontrá-lo no Plaza e, quando deixou de aparecer, ele esvaziou a garrafa de champanhe na pia, com certa dose de dramaticidade. Ela compareceu ao encontro 15 anos mais tarde, reunindo-se a ele na cama no Plaza, e, embora ele já não estivesse apaixonado por ela, admirou seu senso de responsabilidade."

"Ele achou interessante quando ela raspou seus pelos púbicos, mas isso não prolongou significativamente o caso entre eles."

"O segredo mais vergonhoso de sua vida era que ela havia ido para a cama com um homem depois de ouvi-lo dizer, sem contestá-lo, que era um Doobie Brother."

Reflexões para dia chuvoso
O tempo nublado e chuvoso não faz bem à cabeça do tio Dave. Sou uma pessoa extremamente heliosensível. O tempo deprimente exerce um efeito igualmente deprimente sobre o solitário neurônio que tenho o orgulho de chamar de meu cérebro.
Ultimamente o tempo vem me obrigando a ficar em casa, praticando uma atividade que não me faz me sentir bem: pensar. Eis algumas perguntas para as quais não consegui encontrar respostas:

Por que não existe ração para gatos com sabor de rato?

Quando seu papagaio de estimação vê você lendo o jornal, será que ele se pergunta por que você está sentado ali sem fazer nada, só olhando para o chão?

Por que os jornais na TV se dão ao trabalho de noticiar cortes de energia?

Quando um garoto surdo fala palavrão, será que sua mãe passa sabão nas suas mãos?

Se uma pessoa sofre de múltipla personalidade e ameaça se matar, a situação será vista como uma tomada de refém?

Se uma pessoa sofre uma crise da meia-idade no momento em que está brincando de esconde-esconde, será que ela perde automaticamente porque não consegue se encontrar?

Quando o sindicato dos confeccionadores de faixas e cartazes promove uma greve, será que eles desfilam com alguma coisa escrita nos cartazes?

Não é um pouquinho assustador o fato de que médicos e advogados chamarem o que fazem de "prática"?

Tradução Clara Allain

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