São Paulo, quinta-feira, 4 de dezembro de 1997
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Festival de trapalhadas

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - O Congresso estava divertidíssimo ontem, desnorteado com pelo menos três erros grosseiros.
O mais grave foi o aumento do IR sobre investimentos. Valia para os fundos de ações? Pela redação da área econômica aprovada às pressas, valia. Mas não deveria valer.
Debaixo da caçoada geral, Planalto, Fazenda, BC e o relator Roberto Brant (PSDB) amanheceram encenando a peça "esqueçam o que escrevi". No caso de Brant, uma pena. Professor de economia e finanças, foi secretário da Fazenda de Minas e é tido como um dos bons quadros do Congresso.
Outro erro foi o PSDB tirar o tapete do pefelista José Lourenço, relator da MP que adiava por dois anos a redução de 70 para 67 anos de idade para que os velhinhos paupérrimos tenham direito a renda mínima.
Lourenço tinha tentado sem sucesso amenizar uma medida tão impopular. Governo e tucanos não toparam. Na hora H, porém, o PSDB deu uma de ACM e assumiu o discurso do bonzinho, defendendo os idosos e descartando o texto do relator. O português Lourenço subiu nas tamancas.
Um terceiro erro foi do deputado goiano Sandro Mabel (PMDB), relator da MP que autoriza a demissão de 55 mil servidores não estáveis. O projeto tinha artigos repetidos, textos contraditórios, uma barafunda. Ficou claro que ele nem sabia do que se tratava.
A oposição tirou sua casquinha, é claro. Riu, provocou, tripudiou. "Essa dos velhinhos era mesmo 'impassável"', dizia o petista José Genoino, reclamando da decantada falta de sensibilidade social do governo tucano.
Mas, a bem da verdade, não houve vencedores, só um grande perdedor: a instituição, ao passar a idéia de que não legisla, não pensa, não produz, apenas espera que caiam no seu colo os projetos elaborados pelo governo.
Depois disso, os governistas assumem a paternidade e negociam freneticamente a aprovação de textos que nem sempre entendem. E a oposição arremata o teatro condenando textos que ela, da mesma forma, não digere corretamente.
Ou seja, o Executivo legisla e o Legislativo executa -mas só o que o Executivo manda.

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