São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Cidade mal cuidada agrava efeito da chuva

MAURÍCIO RUDNER HUERTAS
RODRIGO VERGARA

MAURÍCIO RUDNER HUERTAS; RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Alagamentos ocorreram onde deveria haver obras municipais e estaduais contra as enchentes

A chuva que atingiu a cidade de São Paulo ontem foi moderada, mas os efeitos causados por ela não. O rio Tietê transbordou, a marginal Pinheiros teve alagamento em três locais e a avenida Aricanduva e a pista sob o vale do Anhangabaú ficaram submersas, entre outros problemas.
Os efeitos da chuva apareceram exatamente nos pontos em que deveriam estar operando obras antienchente prometidas por Estado e prefeitura, mas que não foram concluídas.
O Estado descumpriu o cronograma do rebaixamento da calha do Tietê, obra considerada definitiva no combate às cheias. A prefeitura, por sua vez, paralisou a construção de piscinões e galerias, por falta de verba.
As consequências da falta de cuidado foram sentidas principalmente no trânsito. Às 9h30, a CET já contabilizava 80 km de congestionamentos. Na média do mês passado, o pico de congestionamento pela manhã foi 54 km.
Às 14h, o rio Tietê invadiu a pista expressa da marginal em três pontos. Sob a ponte Aricanduva, o trânsito foi bloqueado nos dois sentidos. A lentidão saltou para 87 km, às 16h. Uma hora e meia depois, chegou a 105 km. Às 19h, a marginal continuava interditada sob a ponte Aricanduva e os congestionamentos somavam 112 km.
O trânsito afetou a rodovia Castello Branco, que registrou 12 km de lentidão. Diante dos congestionamentos, a prefeitura decidiu não multar quem descumpriu o rodízio à tarde.
Segundo o IAG (Instituto Astronômico e Geofísico), que mede a quantidade de chuva na Água Funda, choveu 34 mm ontem, até as 14h. "Não é uma chuva excepcional", disse Frederico Luiz Funari, meteorologista do instituto.
Bueiros
Fora das marginais, o trânsito sofreu ainda os efeitos da falta de limpeza de bueiros e galerias. Neste ano, a prefeitura gastou 20% do previsto em orçamento para esse serviço.
Por conta disso, por exemplo, ficaram alagados sete pontos na avenida do Estado e a pista sobre o viaduto Washington Luiz, além da pista sob o vale do Anhangabaú.
"Não há dúvida nenhuma de que o trânsito pára quando chove na cidade", disse Nelson Maluf El Hage, presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).
Para ele, há várias explicações para o fenômeno: "As pessoas evitam fazer pequenos percursos a pé, e cresce o número de carros nas ruas. Os motoristas também dirigem mais devagar, mas mesmo assim ocorrem muitos acidentes, que atrapalham o trânsito".
Os alagamentos também estão na lista de motivos para o caos no trânsito. "Algumas vias acabam tendo alagamentos, porque têm bueiros entupidos."
Hage disse que não há muito o que a CET possa fazer para minimizar o problema. "Temos algumas ações paliativas. Avisamos as administrações regionais sempre que detectamos um bueiro entupido, e deixamos de alerta as equipes de resgate em dias de chuva, para retirar os veículos acidentados o mais rápido possível da pista."
Para ele, os buracos não pioram o congestionamento em dias de chuva. "Buraco atrapalha o trânsito em dia seco ou chuvoso."

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