São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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'O próximo Prêmio Nobel dos EUA'

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Leia trechos da entrevista com o escritor, crítico e editor norte-americano Gordon Lish, que falou à Folha na quarta-feira, por telefone, de sua casa em Nova York. (MR)
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Folha - Don DeLillo é hoje um dos maiores escritores dos EUA?
Gordon Lish - Eu diria que por muitas razões ele é o maior autor em atividade nos EUA hoje. Suspeito que ele será o próximo escritor de meu país a ganhar um Prêmio Nobel de literatura.
Hoje há cada vez menos liberdade para se escrever. Escrever sentenças que sejam livres do julgamento de terceiros. A exceção é meu amigo Don DeLillo. Nós nos aproximamos nos anos 70; isso aconteceu em consequência da natureza de nossos trabalhos.
Folha - E qual é essa natureza?
Lish - A maneira que vemos e concebemos o mundo. Penso que a ficção de DeLillo é animada, construída pelo sentimento de horror. Ele me dedicou "Mao 2", especialmente, porque... Bem, eu sou particularmente fã de dois romances que ele escreveu antes de "Mao 2" -"Os Nomes" e "Players". E nós decidimos realizar uma saudação na forma de dedicatórias durante anos. Eu lhe dediquei "My Romance" e "Epigraph", lançado no ano passado. De minha parte foi memorável, da parte dele eu não sei.
Folha - É verdade que o sr. o descobriu?
Lish - Não é verdade. Antes de nos encontrarmos ele já havia publicado dois romances. Mas eu o publiquei quando era editor de ficção da revista "Esquire" e também na Knopf (a editora onde trabalhei por 18 anos). Mas não se pode dizer que eu o descobri, no sentido em que isso aconteceu em relação a outros autores. Apenas sei que durante minha experiência como editor nunca encontrei alguém melhor do que DeLillo; e, se fizermos uma lista, veremos que existem poucos competidores.
Uma particularidade em sua atual situação é que ele agora é um best seller, mas não que tenha chagado ao mercado. Parece que o mercado chegou a ele. Ou, na verdade, tudo foi um grande acaso. Não foi sua intenção.
Provavelmente isso representa uma nova relação entre o escritor e o mercado. DeLillo é um autor que nunca esteve comprometido com o mercado. Na verdade, acho que ele é um ser humano sem compromissos. Não posso imaginá-lo se adequando ao leitor. Acho que o sucesso de "Underworld", por exemplo, talvez possa ser entendido como o resultado de circunstâncias bizarras e inesperadas.

LEIA MAIS sobre o romancista Don DeLillo às páginas 4-8 e 4-9

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