São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997 |
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Rock'n'roll gaúcho tenta ganhar o Brasil
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
A cantora e compositora Luciana Pestano, 24, foi a eleita pela PolyGram para abrir o pacote. A seguir, devem ser lançados a banda de rock pesado Tequila Baby e "A Sétima Efervescência", do psicodélico Júpiter Maçã, 29 -todos já em circulação no Sul. A PolyGram entrou no negócio mostrando as garras. A capa do CD de Luciana foi alterada (veja fotos abaixo), para conferir à cantora um ar sensual -de costas nuas e seios cobertos só por cabelos. "Confesso que a princípio torci o nariz para mudar a capa, mas a intenção foi qualificar mais o material gráfico. A sensualidade dela é natural, não é forçada", diz o diretor do Antídoto, Raul Albornoz. A imagem não faz suspeitar o que a artista oferece no CD. "O pessoal de Porto Alegre gosta muito de blues e rock'n'roll", diz Luciana, definindo sem querer seu próprio trabalho. Como diferenciais, ela usa a voz rouca ("sempre fui rouca, costumo dizer que peguei uma gripe quando era pequena e nunca mais sarei") e o status de compositora. "Há poucas mulheres fazendo tudo ao mesmo tempo. Quando descobri que tinha voz rouca, fui procurar cantoras/compositoras que tinham voz assim, como Angela RoRo, Marina, Janis Joplin. Mas influência, mesmo, sofri de Pretenders, Cowboy Junkies, Bob Dylan, Neil Young." Ela usa a terra natal como possível justificativa para suas tonalidades menos tropicais. "O sul dos países é diferente, é mais blues, melancólico. Sinto muita influência do frio, do vento", define. Nega qualquer propósito sensual nas fotos da segunda versão do CD. "Não sou essa coisa sensual. A foto dos cabelos na frente dos seios é rebelde, brava. Me senti uma índia gaúcha, segurando o violão como se fosse uma arma." Ainda sem data exata de lançamento definida, o CD da entidade Júpiter Maçã ("Júpiter para o vovô, que tinha esse apelido, e Maçã por causa dos Beatles") é o trabalho solo de Flávio Basso, ex-vocalista e compositor da banda gaúcha Cascavelettes, um cult do rock nacional dos anos 80. Basso define seu alter ego musical: "Júpiter Maçã não é um rock'n'roller. Não quero encher a cara, depredar hotel. Chamam-me cidadão psicodélico, com influências de Beatles, Mutantes, Syd Barrett, Caetano -embora não pareça-, Kinks, Raul Seixas". A coincidência de que todos os modelos sejam ícones dos anos 60 é involuntária, segundo ele -embora não gratuita. "Sinto o cheiro de 67 e 68 quando saio na rua pelas manhãs. Mas não é sensação de saudade, gosto de 97", afirma. Quem funciona como uma espécie de abre-alas dos artistas gaúchos que chegam agora ao Sudeste é Wander Wildner, ex-membro dos Replicantes, outra banda-símbolo do rock gaúcho dos 80. Foi ele quem (re)abriu a trilha, lançando "Baladas Sangrentas" (96) pelo selo independente carioca Fora da Lei. A São Paulo, só chega agora, relançado pelo também independente Tinitus. Define-se "underground", um roqueiro influenciado por Roberto Carlos, Stones, Neil Young, Iggy Pop, Sex Pistols, Ramones e Almôndegas que nada na contracorrente do domínio do pop nos 90. "Não gosto da sociedade, sou punk. Essa globalização tornou todo mundo muito pop. O rock também fez muita porcaria, hoje são 20 bandas que só querem ganhar dinheiro. Estão ficando muito burros, fazendo tudo por causa da conta bancária. Para mim, o rock é tudo que existe, é minha vida." Faz também a autocrítica local: "O cenário rock em Porto Alegre é maior que em qualquer capital brasileira. O problema é que as pessoas não conseguem sair. Nascem, crescem e morrem aqui -não se formou um ciclo evolutivo, mas um círculo. As pessoas que conseguem alguma projeção as que acabam saindo daqui". É o que mostram os fatos e a persistente centralização: Wander divide seu tempo entre Porto Alegre, Rio e São Paulo, Júpiter passa uma temporada de duração indefinida em São Paulo e Luciana diz que pensa em se mudar para o Rio de Janeiro."Faço tudo pela música. Não tenho muita raiz em qualquer lugar", diz ela. Texto Anterior: A arma está no tempero Próximo Texto: Selo tem outros títulos Índice |
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