São Paulo, sexta-feira, 5 de dezembro de 1997
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Energia nuclear surge como '3ª via'

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A KYOTO

O impasse na conferência de Kyoto (Japão), que discute o controle da emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa, permitiu surgir uma "terceira via" para a solução do problema -ontem, defensores da energia nuclear tomaram os microfones para expor suas idéias.
Wolf J. Schmidt-Kuester, secretário-geral do Foratom (Foro Atômico Europeu), citou uma grande quantidade de estatísticas para provar as vantagens da energia nuclear, como o seu poder energético milhares de vezes superior ao do carvão ou do petróleo.
Os ambientalistas rebateram em termos de "sustentabilidade", ou seja, a capacidade de uma atividade econômica humana se perpetuar porque sua matéria-prima é inesgotável ou reciclável.
Não é o caso do urânio e da energia nuclear, apesar de o secretário do Foratom ter dito que as reservas de urânio dariam para 240 anos, com base no consumo atual.
Os ambientalistas discordam. Por sinal, a oposição à energia nuclear é o único ponto de acordo entre os "verdes" do planeta.
"Não existem estratégias provadas para um permanente armazenamento do lixo nuclear", diz o grupo Amigos da Terra. "É uma das maneiras mais caras de se reduzir as emissões de dióxido de carbono", diz o grupo.
"Muito do lixo vai permanecer perigoso por milhares de anos, deixando um legado radiativo para futuras gerações", diz o grupo Greenpeace. E, dizem eles, a proliferação de tecnologia nuclear pelo planeta aumenta o risco de proliferação de armamentos nucleares.
Impasse
À parte a proposta nuclear, as discussões em Kyoto continuaram ontem girando sobre os mesmos impasses. Ontem, os representantes dos mais de 160 países tentavam atingir consensos mínimos antes da chegada de ministros, prevista para se iniciar na próxima semana. Os negociadores querem ter algo pronto para eles discutirem e eventualmente aprovarem.
A conferência de Kyoto busca estabelecer limites de emissão de gases-estufa, que provocam o aquecimento do planeta. Esses gases, que se acumulam na atmosfera, aumentam a retenção da radiação solar. Cientistas prevêem que, se os níveis de emissão continuarem a subir, o planeta vai enfrentar diversas dificuldades -aumento do nível dos mares, mudanças bruscas e cada vez mais violentas no clima e extinção de espécies animais e vegetais.
Chegar a um consenso sobre como controlar as emissões, porém, parece algo ainda distante.
Os EUA, o principal contribuidor para o efeito estufa, defende que os níveis de emissão para 2010 sejam os mesmos dos registrados em 1990. A Europa defende a redução desse nível em 15%.
O time dos representantes do Brasil, cerca de 12 pessoas, foi reforçado pelo ambientalista Rubens Harry Born, da ONG (organização não-governamental) Vitae Civilis. Também foram para Kyoto dois acadêmicos e especialistas em questões energéticas, José Goldemberg, da USP (ministro do Meio Ambiente durante o governo Collor e a Eco-92), e Luiz Pinguelli Rosa, da UFRJ.

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