São Paulo, sábado, 6 de dezembro de 1997![]() |
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"Fiscais colocam o dinheiro no bolso"
LUÍS PEREZ
Quase passou fome quando chegou a São Paulo, em 1987, antes de formar a dupla, em 1990. Hoje é, segundo o Ecad, o compositor que mais arrecada direitos autorais no Brasil. Por mês, a retirada é calculada em R$ 40 mil por mês -há sete anos, seus discos vendem, em média 1,6 milhão de cópias. O músico denuncia: "Há fiscais que arrecadam dinheiro e colocam no bolso, e tenho como provar". Leia trechos de sua entrevista à Folha, ao lado do irmão Luciano. * Folha - Essa preocupação com direito autoral tem a ver com o fato de ser o que mais arrecada? Zezé Di Camargo - Acho muito válido lutar pelos direitos, saber o que reivindicar. O que acontece com o artista e com o jogador de futebol é que são pessoas simples, que abandonaram os estudos muito cedo para lutar por um ideal e isso faz com que a pessoa fique um pouco leiga em lei, reivindicações. Folha - Você vê outros artistas lutando por isso? Zezé - Não, confesso a você que há um descaso, uma acomodação. Há artistas que dizem que não podem lidar com grana. Mas você tem que ver que isso é um trabalho que você tem, tem que ser remunerado por ele. E que, depois que você sair da evidência, você tem uma família que vai viver disso, do seu direito autoral. Não é por você. Se você está valorizando você, está beneficiando toda uma classe. Folha - Quanto tempo faz que você colocou um fiscal contratado por você no Ecad? Zezé - Uns três, quatro meses. Na verdade, não é um cara nem pra fiscalizar, mas mais amigavelmente. Existe no Ecad uma preocupação de resgatar a credibilidade. Tive duas reuniões com a dra. Glória, que está à frente do Ecad hoje, e dei algumas idéias. Acho que quem vai resgatar o crédito são os autores. Sugeri a ela que começasse a ter um relacionamento mais transparente com eles. Folha - Quem são as pessoas mal-intencionadas? Zezé - Não tenho nomes para te dizer. A gente sabe, por exemplo, que houve, apurado pela CPI... Tem gente que foi até presa... Folha - Mas o que acontece exatamente? Zezé - O que tenho como provar, se vierem em cima de mim, é que há fiscais que arrecadam dinheiro e colocam no bolso. Não são todos, porque toda regra tem exceção. Por exemplo, se você faz 16 shows por mês e vem na planilha 4, cadê os outros 12? O que acontece? Não chega ao Ecad aquela grana. O que acontece é o seguinte: se você é o contratante do Zezé Di Camargo & Luciano -que tem de pagar 10% do valor do cachê ou da bilheteria- e eu sou fiscal do Ecad, faço uma proposta. Em vez de pagar R$ 6.000 do show para o Ecad, paga R$ 3.000 para mim e eu nem estive aqui. Folha - Que prova você tem? Zezé - Contratante já me mostrou cheque nominal ao fiscal. Posso citar até a região. Os contratantes são amigos da gente e falam: "Fiz acordo com o fiscal do Ecad". Porque o contratante é o cara que corre o risco de, se der chuva, não ir ninguém e ele paga o show, o Ecad e gera toda a receita. E é o único que coloca o dele na reta, que corre o risco de tudo. Ele paga tudo o que você pensar de tributos fiscais, aluguel do espaço. Luciano - Lembra aquela vez que vimos um cara fazer recibo num papel de pão? A coisa é tão desorganizada que chega a esse ponto? O cara fez um recibo para o contratante num papel de pão. Folha - Mas você acha que tem de pagar sobre tudo mesmo? Quarto de hotel, essas coisas? Zezé - Acho que existe excesso. Quando você cobra muito, está estimulando o cara a sonegar o máximo que ele pode. Texto Anterior: Coluna Joyce Pascowitch Próximo Texto: Textos feitos por Brecht aos 15 são publicados Índice |
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