São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Encontro discute os rumos da esquerda

Convidados vêem esperança e falhas no socialismo

DA REPORTAGEM LOCAL

Falta uma agenda para atualizar a esquerda e inseri-la de modo mais forte no debate político, mas as idéias básicas dessa tendência, como a busca da generosidade, não estão mortas. Essa é a principal conclusão do debate "A esquerda hoje no Brasil e no mundo", promovido pela Folha na última quinta-feira.
O evento fez parte das comemorações do centenário do nascimento do líder comunista Luiz Carlos Prestes (1898-1990).
A mesa foi formada pelos jornalistas Eugênio Bucci e Luiz Carlos Prestes Filho, pelo cientista político Fernando Haddad, pelo deputado federal José Genoino (PT-SP) e pelo cineasta Toni Venturi, diretor do documentário "O Velho", sobre a vida de Prestes. O mediador do debate foi o jornalista Luís Costa Pinto, da Folha.
Em comum, os participantes mostraram uma visão crítica sobre a dificuldade de a esquerda formular um novo projeto para enfrentar o neoliberalismo.
"O descontrole atual do mundo abre brecha para um discurso emancipatório, a ser formulado, mas ainda faltam os instrumentos para isso", afirmou Haddad.
O cientista político foi duro na análise da crise de projeto da esquerda: "É necessário revisar dezenas de dogmas e não incorrer no equívoco de achar que houve um erro de condução. São os princípios que precisam de revisão".
Haddad vê espaço para o ressurgimento da força da esquerda. Bucci concordou. "O que caiu foi a primeira dentição das idéias da esquerda, mas ainda virão os dentes permanentes", disse Bucci. O jornalista ressalvou, no entanto, a necessidade de formulações novas teorias para a esquerda, que abranjam, por exemplo, a discussão sobre a regulamentação internacional do capital.
Genoino fez coro na crítica à tendência da esquerda ortodoxa de situar seu programa na órbita do Estado. "Hoje, a esfera de acúmulo se dá no plano da sociedade civil e, a partir daí, devemos construir um programa para enfrentar o neoliberalismo com radicalidade."
Prestes Filho renovou a aposta no marxismo, mas declarou-se crítico do chamado socialismo real. "Só uma pessoa cega não vai imaginar o que foi o sangue derramado pelo povo soviético nos campos de concentração da Sibéria", afirmou.
Venturi marcou sua fala com uma "provocação". "A esquerda não representa mais a vanguarda. Hoje, ela luta para preservar o espaço conquistado e vive em extrema perplexidade", declarou.
Prestes
Boa parte do debate foi consumido sobre a influência de Luiz Carlos Prestes na esquerda brasileira.
Mesmo reconhecendo a importância histórica do líder comunista, os participantes frisaram a necessidade de analisar a participação de Prestes na vida política do país à luz também dos equívocos cometidos pela esquerda.

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