São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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'Pedágio' paga obras em clube uruguaio

RODRIGO BERTOLOTTO
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Um ginásio, uma piscina coberta, uma sede social e um centro de treinamento localizados próximo ao centro de Montevidéu.
É nisso que o Central Español, clube da 2ª divisão uruguaia, transformou o lucro obtido com seus negócios com empresários de jogadores, como Juan Figer.
A Folha revelou que o time uruguaio foi intermediário na venda do lateral-esquerdo Zé Roberto, da Lusa ao Real Madrid (Espanha).
Nessa transação, US$ 5,38 milhões foi a diferença entre o valor do documento de venda da Lusa (US$ 4,6 milhões) e a documentação de compra do Real Madrid (US$ 9,98 milhões).
A Receita Federal brasileira investigará se houve sonegação fiscal na triangulação -a Lusa vendeu Zé Roberto ao Central Español, que o transferiu ao Real Madrid.
O custo das obras da nova sede social e do centro de treinamento do Central Español gira por volta de US$ 1,5 milhão. "Uma parte das obras foi paga com o dinheiro de nossos negócios com os empresários. Outra parte foi financiada pelo governo e custeada pela venda de jogadores nossos", disse Enrique Balderich, presidente do clube entre os anos de 1990 e 1995.
Balderich diz ser muito amigo de Juan Figer, empresário uruguaio que, além de Zé Roberto, negociou o passe de pelo menos mais quatro jogadores brasileiros (Silas, Axel, Ricardo Rocha e Nilson) por meio do Central Español.
Figer, que havia sido diretor do Peñarol e vendedor de camisas em Montevidéu, mudou-se para o Brasil em 1968, depois de conseguir vender o passe do compatriota Pablo Forlan para o São Paulo.
O sucesso de Forlan e de outro atleta indicado pelo empresário, Pedro Rocha, abriu caminho para Figer no mercado brasileiro.
Hoje, além de sócio honorário do clube, Figer é empresário de dezenas de jogadores no Brasil, que oferece até pela Internet.
O presidente do Central Español, Hugo Jaurena, afirma que a negociação de Zé Roberto foi arriscada.
"Tivemos lucros, mas o futebol é negócio de risco. Os problemas surgem a toda hora. E, se houve algum, a responsabilidade iria recair sobre nós", afirma.
Jaurena não acredita que o "pedágio" no Uruguai que se realiza nas transferências de jogadores de outros países sul-americanos à Europa manche o futebol local.
Bicampeão mundial (1930 e 1950), o Uruguai está fora de Copas desde 1990 e seus times exportam os futebolistas ainda juvenis, como é o caso de Álvaro Recoba (Inter), Juan Zalayeta (Juventus) e Nicolás Olivera (Valencia).
"A presença de clubes daqui em negócios de futebol mundial prestigia nossa imagem. Mostramos que temos vantagens por ser uma praça financeira livre", diz.

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