São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Condições para a vida

RONALDO ROGÉRIO DE FREITAS MOURÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Apesar do sucesso das missões não tripuladas ao planeta, Marte conserva ainda muitos mistérios. É impossível afirmar que a vida não existe no planeta.
Se experiências como as realizadas em Marte pelas Viking, em 1976, fossem feitas na Antártida, teriam mostrado ausência da vida na Terra. Podem ter havido regiões em Marte em que a vida teria existido de forma ao menos rudimentar.
Por outro lado, os leitos dos rios detectados na superfície marciana parecem sugerir que a água, existente outrora, encontra-se atualmente nas calotas polares ou estocada sob a forma de terrenos gelados no subsolo de Marte.
Todas essas incertezas têm estimulado o interesse dos governos dos EUA e da URSS em continuar a exploração de Marte.
Durante o sucesso da missão Apollo, em particular após a descida do homem na Lua em 1969, Wernher von Braun, na época administrador da programação da Nasa (agência espacial dos EUA), propôs o envio de uma tripulação a Marte.
Em virtude do seu elevado custo e da opção governamental, von Braun resolveu deixar suas funções ao verificar que o futuro da Nasa era incerto e se afastava dos seus projetos de viagem ao planeta vermelho bem como da base lunar antes do fim do século.
Na segunda metade dos anos 80, a Comissão Nacional de Espaço dos EUA apresentou ao então presidente Ronald Reagan um relatório em que propunha uma nova missão tripulada à Lua em 2005, a instalação de uma base permanente e de uma central industrial lunar em 2015, uma missão tripulada a Marte em 2020 e a primeira base marciana autônoma e permanente em 2030.
O relatório assinalou objetivos que exigiam um novo desenvolvimento do programa espacial. Um deles é estabelecer nova tecnologia para as estações espaciais e os veículos que deverão levar os astronautas de uma estação à superfície marciana. Outros objetivos são estudar técnicas de produção de alimentos e reciclagem dos restos biológicos do homem no espaço e produzir foguetes lançadores de cargas úteis pesadas.
Custos elevados
Um outro desafio é o desenvolvimento de uma nova tecnologia de produção de energia no espaço e em Marte, que, além de ocupar um volume bem limitado, deverá ser leve e de custo muito reduzido.
O relatório prevê também o desenvolvimento de processos que permitam a utilização dos recursos naturais marcianos, possibilitando a vida e o trabalho dos astronautas na superfície do planeta como a produção de água potável.
Apesar do custo de cerca de US$ 50 bilhões (relativamente inferior ao da missão tripulada à Lua que custou US$ 65 bilhões), esse gasto se justifica, como ocorreu após o projeto Apollo, em virtude das vantagens econômicas provenientes dos avanços técnicos que deverá produzir em curto prazo.
Se considerarmos as tecnologias então desenvolvidas -cujos custos foram totalmente amortecidos em virtude de sua aplicação aos atuais programas espaciais-, o envio de uma missão tripulada a Marte se justifica não só por razões políticas como pelo prazer da aventura que tanto tem impulsionado a civilização.
A primeira base em Marte deve ser constituída de módulos a serem usados como habitação. Deverá possuir uma central de energia solar para gerar eletricidade e um módulo de desumidificação de atmosfera, instalado junto à base, com a finalidade de produzir água. Duas estufas deverão ser instaladas para culturas convencionais.
Os planos das diferentes etapas de colonização do planeta vermelho são conhecidos. A construção do veículo espacial interplanetário deverá ser feita por acoplamento automático e teleguiado de três módulos, próximo a uma estação espacial internacional situada em órbita ao redor da Terra.
Antes da partida da primeira tripulação, um veículo não tripulado deverá ser lançado em direção a Marte, levando dois cargueiros de aterrissagem. As cargas úteis destas naves deverão permitir a criação da primeira base marciana.
Um ano e 18 meses após a partida do primeiro veículo interplanetário, um segundo veículo análogo será acoplado de novo em órbita terrestre e, em seguida, lançado em direção à Marte com uma tripulação de substituição.
Nesse intervalo, o primeiro veículo interplanetário estará de volta ao espaçoporto da estação espacial internacional para uma revisão técnica após sua missão a Marte.
Dois anos mais tarde, a primeira nave deverá ser relançada para realizar uma terceira missão em solo marciano. Quase simultaneamente, o segundo veículo deverá retornar da base marciana. Logo em seguida, dois outros cargueiros estarão pousando.
Na primeira troca de tripulação, 8 dos 12 primeiros astronautas que haviam permanecido em Marte durante dois anos embarcam em veículos, cujos reservatórios de combustíveis foram recarregados com combustível líquido produzido a partir dos gases da atmosfera do próprio planeta.
Os quatro astronautas que permanecerem em Marte deverão preparar a ampliação da base marciana com a segunda equipe. Dois outros cargueiros serão de novo descarregados e reunidos à base.
Assim, de dois em dois anos, a primeira instalação será ampliada até que veículos maiores desembarquem no planeta para deixar mais homens, mulheres e materiais. Desse momento em diante poderemos falar de uma colonização humana em Marte.
Nos próximos séculos, haverá a colonização do sistema solar. Gradualmente o homem deixará de ser o atual prisioneiro da Terra para se transformar no habitante de todo o seu sistema planetário.

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