São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Marisa e Brown cantam no parque

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os gramados do parque Ibirapuera presenciam na manhã de hoje um evento inédito em São Paulo: o encontro musical, no palco, entre Marisa Monte e Carlinhos Brown.
Parceiros desde "Cor-de-Rosa e Carvão" (disco de Marisa lançado em 94), eles selam a parceria hoje com um show que prevê quase 30 músicas -uma delas composição inédita dos dois com Arnaldo Antunes, que, segundo a cantora, nem tem título ainda.
O arcabouço do espetáculo é o repertório de Marisa -Brown não estará no palco o tempo todo-, mas a artista disse à Folha, em entrevista por telefone, que não se trata da revisão de "Barulhinho Bom" (seu show mais recente) ou de um show normal seu.
"É pura diversão, festa, alegria. É confraternização, fim de ano. Não estou em pique de turnê, só fiz projetos breves neste ano. Então vai haver novidades, como naipes de cordas e de sopros e arranjos escritos especialmente por Jaques Morelembaum", afirma.
A reunião
Carlinhos Brown reflete sobre o significado da reunião: "Cabral descobriu o Brasil, Brown descobriu o timbau e Marisa descobriu a canção de Brown. O mercado sempre impôs que eu fosse batuqueiro, nunca procurou meu lado cancioneiro. Foi Marisa quem fez isso".
O encontro no Ibirapuera -que encerra a programação deste ano do projeto Pão Music, elaborado pela Secretaria Municipal da Cultura e Grupo Pão de Açúcar, que leva artistas ao parque para shows matutinos e gratuitos- coroa um ano "pacato" para Marisa Monte -ela não fez turnê, não preparou nem gravou disco novo.
"Essa dinâmica é essencial para mim. Não estou fazendo uma carreira, mas uma vida. Preciso ter disponibilidade para outras coisas, para minha família. Por causa desse ritmo louco em que os músicos vivem é que as pessoas acabam quebrando quarto de hotel."
Ainda respeitando seu ritmo, ela já planeja 1998: "Estou compondo, mas não vou fazer disco antes do final do ano. Devo fazer shows nos Estados Unidos e no Japão antes de começar a pensar em gravar. Para mim, um disco não é ponto de partida, é consequência".
Brown vai um pouco adiante e afirma que a dupla pretende gravar um disco em conjunto. "Não temos o quando, mas temos a vontade. Um artista é uma carreira, dois artistas com duas carreiras formam uma terceira carreira. Não é marketing, é uma necessidade cultural brasileira", diz.
Repertório
Modificações à parte, Marisa não promete grandes novidades de repertório hoje.
Entram canções de seus quatro discos, mais algumas do de Carlinhos Brown, algo de Tim Maia (canta com Brown "A Festa do Santo Reis" ou "Haddock Lobo Esquina com Matoso", não decidiram ainda qual delas), Roberto e Erasmo ("Se Você Pensa").
Não deve comparecer ao parque, portanto, a Marisa "garimpeira", que tem reevidenciado clássicos pouco notados da MPB -ela é em parte responsável por ondas de revalorização de artistas como o próprio Tim Maia, Novos Baianos, Paulinho da Viola (foi por sua insistência que a obra do artista na EMI foi relançada em CD; a mesma campanha ela fez pela reedição da obra de Clara Nunes, prestes a chegar às lojas).
"Isso é inconsciente, é consequência do meu amor pela MPB, das coisas que gosto de ouvir. Sou curiosa, vou ao Museu da Imagem e do Som, à Funarte, a sebos. É nossa função também."
"A primeira coisa que fiz quando assinei contrato com a EMI, há oito anos, foi ir ao seu arquivo. Faço uma listinha do que quero, eles vão preparando", continua.
Marisa cita tesouros encontrados que ainda não utilizou em sua obra: Cassiano, Lady Zu, Dorival Caymmi, Nana Caymmi. "Estou para voltar aos arquivos da EMI, achar coisas que posso não ter reparado antes e que hoje me interessam muito, como Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim."
No mais, é arroz com feijão: desfilarão sucessos como "Beija Eu", "Segue o Seco", "Ainda Lembro", "A Menina Dança"..., levadas pela banda habitual de Marisa, mais Antonio Costa (guitarrista de Brown), um quarteto de cordas (dois violinos, viola, e cello) e um naipe de metais (trompete, trombone, sax tenor e flauta).
Brown, por sua vez, evita entrar em detalhes sobre o show, mas vota na novidade: "O show passa pelo lado orgânico do dia. Nos preparamos para surpreender o público, com coisas que nunca ouviu e outras que já ouviu".
Resta ao público paulistano conferir se ao vivo a química Marisa/Brown dá mesmo liga.

Show: Marisa Monte (participação especial de Carlinhos Brown)
Onde: praça da Paz (parque Ibirapuera)
Quando: hoje, às 11h
Quanto: entrada franca

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