São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Colegiais ditam a moda entre japoneses

RICHARD LLOYD PARRY
DO "THE INDEPENDENT", EM TÓQUIO

O bairro de Shibuya, um aglomerado de lojas e restaurantes na zona oeste de Tóquio, é um desses lugares que inspiram uma sensação de velhice, caretice e feiúra em quem tem mais de 21 anos.
Shibuya, a capital da moda e da juventude no Japão, é tão central e simbólico na cultura popular quanto Carnaby Street (Londres) ou o Boulevard St. Michel (Paris).
E a região é dominada pelas "joshi kosei" -as colegiais japonesas.
O Japão deve ser o único país onde é considerado moda para mulheres jovens serem vistas em seus uniformes escolares.
Toda noite e todo fim-de-semana elas lotam Shibuya com sua plumagem peculiar: os terninhos de marinheiro azuis e brancos, as saias plissadas alcançando alturas alarmantes e as meias brancas de tamanho muito maior do que o normal -mantidas levantadas por colas especiais.
A mochila escolar é adornada com uma variedade de brinquedos, principalmente um gato branco onipresente, conhecido como Hello Kitty. Em algum lugar haverá um bolsinho de plástico contendo uma foto da dona e do seu namorado, obtida numa máquina chamada Print Club.
Dentro da mochila haverá um telefone celular ou, pelo menos, um "pager", um álbum com fotos tiradas numa Print Club, um batom cor de prata e um kit de maquiagem. Todo o conjunto terá custado muitas centenas de dólares.
Outros países fetichizam as suas colegiais, e no Japão há um animado comércio de revistas pornográficas e lingeries usadas de colegiais.
Há até bordéis temáticos, onde prostitutas vestidas como adolescentes se oferecem aos clientes num cenário de sala de aula.
Mas as colegiais japonesas são únicas em seu poder econômico. O Tamagotchi, o "bichinho de estimação" eletrônico que se tornou uma febre mundial após aparecer no Japão, é apenas o mais dramático exemplo do admirável potencial do mercado jovem do país.
Nos últimos dois anos, uma pequena indústria floresceu, dedicada a prever seus gostos e arrebatar seus gastos.
Nenhum país é tão suscetível a tendências e modismos consumistas como o Japão, mas há vários motivos que fazem das colegiais o sonho dos homens de marketing.
Para começar, e apesar do contínuo marasmo econômico, a colegial está bem de vida. De acordo com o Instituto de Pesquisa da Juventude Japonesa, 68% dos adolescentes japoneses recebem uma mesada de cerca de US$ 170.
A taxa de natalidade declina, enquanto a expectativa de vida aumenta. Isso significa que um número menor de crianças tem um número maior de parentes mais velhos para mimá-las. O fenômeno é conhecido entre os homens de marketing como "seis bolsos" -concessões regulares de dinheiro dos dois pais e dos quatro avós.
Mas mais vibrante ainda é a velocidade com que novos produtos e modismos se espalham entre a população adolescente, interligada por telefones celulares, "pagers", classes abarrotadas e uma grande sede por novidades.
Ninguém sabe por quanto tempo essa situação vai continuar existindo no Japão. Se há um sentimento de desolação sobre tudo isso, talvez ele seja justificado. O Japão adulto, afinal de contas, está tremendo à beira de uma recessão, talvez até de um colapso total no mercado de ações.
Se um dos dois acontecer, o mundo das garotas colegiais não poderá ficar imune. O mundo descompromissado das "joshi kosei" pode desaparecer tão dramaticamente quanto apareceu, numa bruma de meias brancas e ternos de marinheiro.

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