São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Nova York em fase milionária

ANDREA FORNES

Dois novos guias desvendam a cidade, que passa por um período de luxos, com diárias de US$ 6 mil e relógios a US$ 20 mil
"Bom mesmo é o dia seguinte ao Natal: tudo, tudo mesmo, cai para pelo menos metade do preço nas lojas de Nova York, em histórica celebração da lei da oferta e da procura, desconhecida de gerações de brasileiros."
(Nelson Motta)
"Big Apple surgiu, como gíria, nos anos 20 e 30, entre esportistas e artistas, particularmente entre os músicos de jazz. 'I am playing the Big Apple' (New York) significava 'I have made it to the Big Apple' -eu cheguei no topo."
(Katia Zero)
"Gorjeta de 10% só é dada em casos flagrantes de grosseria. O correto é dar os 15% esperados por motoristas de táxis, cabeleireiros e outros. Nos restaurantes, a gorjeta habitual fica entre 15% e 20%. A regra local é dobrar a quantia da taxa (8,25%) e a gorjeta fica sendo 16,5%."
(Katia Zero)
Nova York está uma festa. Encerrando um ano glorioso, a cidade consagra-se como a destinação mais cobiçada do momento. Localizada no Estado de Nova York, que tem como capital Albany, é uma cidade com mais de 7 milhões de habitantes e dividida em cinco regiões: Manhattan, Bronx, Queens, Brooklyn e Staten Island. A festa nova-iorquina tem muitos convidados, e seus convidados têm muito dinheiro.
Artigo de Michael Shnayerson publicado na edição de dezembro da "Vanity Fair" apresenta Nova York como "a cidade do champanhe". Um ano frenético em Wall Street (pelo menos até a queda das Bolsas de Valores no mundo inteiro) e uma economia robusta colocaram os gloriosos anos 80 no chinelo. A década, em comparação aos dias de hoje, mais parece o período da depressão econômica, diz a revista. "Nos restaurantes do SoHo, nas butiques da Madison Avenue e nos escritórios do East Side, nenhum preço é alto demais para os lordes da luxúria."
O dinheiro está correndo solto. Há nova-iorquinos dispostos a gastar US$ 2.415 com uma garrafa de Château Margaux (1953), até US$ 20.500 com um relógio Cartier Tank Française e diárias de US$ 400 para estacionar cada 100 pés de barco no North Cove Yatch Harbor de Manhattan. O restaurante Le Cirque 2000, de Sirio Maccioni, alega ter 5.000 pedidos de reserva diariamente e hotéis da cidade, como o St. Regis, chegam a cobrar diárias de US$ 515 por um de seus apartamentos e de até US$ 6 mil por uma de suas 91 suítes.
Segundo a revista, a lista da Forbes contava 13 bilionários em 1982. Hoje, eles são 170, muitos residentes ou proprietários de apartamentos em Manhattan. Mas há a Nova York dos endinheirados e a Nova York dos brasileiros que pagam US$ 2.529 (com entrada de US$ 309 e mais 20 parcelas de US$ 111) para passar sete noites na cidade neste final de ano.
Para quem planeja viajar, acabam de ser lançados dois livros sobre Nova York: "Guia New York", de Katia Zero (Makron Books, 296 págs., R$ 35), em sua versão ampliada, e "Nova York É Aqui - Manhattan de Cabo a Rabo", de Nelson Motta (editora Objetiva, 220 págs., R$ 21,80). A diferença básica entre eles é que Zero escreve para marinheiros de primeira viagem, é didática, prática e detalhista. Fez um guia para turistas. Motta encontrou uma forma bastante personalizada de dividir seus endereços favoritos com leitores já familiarizados com a cidade. Fez um guia para connaisseurs.
Lançado em 1994, o "Guia New York" sai agora com mais 100 páginas, ou seja, a nova edição está 50% maior do que a anterior. Além disso, traz como complemento uma pequena versão de bolso apenas com endereços para o leitor "viajar light, coisa inteligente e muito em moda", segundo a autora. Zero abre o seu guia indicando 100 razões para ir a Nova York: o skyline da cidade, o Museu Guggenheim, o Radio City e as rockettes, a Brooklyn Bridge, o Central Park (em várias estações), o New York City Ballet, o SoHo e sua arquitetura "cast-iron" e assim por diante.
Sempre metódica, ela explica a origem de "tip" (gorjeta, em inglês), uma das palavras-chave de Nova York: "To Insure Promptness" ou "para ser prontamente atentido". No verbete "o que vestir", por exemplo, ela recomenda: "Vista-se em camadas, para poder se descascar igual banana. A regra vale para todos, seja você uma pessoa exclusivamente paletó-colete-gravata ou sandália-jenas-mochila. No inverno, a calefação das lojas é tão alta que daria para andar confortavelmente de short. Já no verão, entre de manga curta num cinema ou teatro e se arriscará a pegar uma pneumonia."
Ou então: "Há 5.033 milhas de calçadas na cidade que você percorrerá 'N' vezes antes de ir embora. Sapato novo, que aperta ou sai do pé dá mau humor, estraga sua viagem e a das pessoas em volta. Dê uma de expert. Leve só pares confortáveis, de preferência meio ou um número maior", como ensina o verbete "sapatos".
Curiosamente, Katia Zero produz um extenso verbete sobre o restaurante Le Cirque 2000 à página 145, lembrando que foi no restaurante "que nasceu a pasta primavera e que o créme brulée foi apresentado aos americanos", mas dedica apenas 12 linhas ao Balthazar (página 128), o restaurante da vez em Nova York. "Guia New York" é útil e completo, tem até um capítulo intitulado "coisas que você nunca pensou fazer em New York", com serviços para experimentar andar a cavalo, alugar iate, gôndola no Central Park, minimassagem e tiro.
Já em "Nova York É Aqui - Manhattan de Cabo a Rabo", com belas ilustrações de Maria Eugênia, Nelsinho Motta dá a sua interpretação da cidade para "amigos" seus. Os capítulos são crônicas sobre o perfil do americano de Nova York com abundantes referências ao Brasil e, principalmente, ao Rio de Janeiro.
Referindo-se ao hotel Gramercy Park, ele escreve: "João Gilberto morou lá nos anos 70, Walter Salles Jr. gostava muito, eu mesmo fiquei lá, feliz, muitas vezes quando ainda era não-residente... É barato, mas se você ficar num dos quartos velhos vai ter saudades de pensões brasileiras tipo penico-e-moringa" (página 23). Ou o capítulo "sexo, drogas e jogatina", sem dica nenhuma, mas que dá um "panorama dos vícios americanos, cartas ou cavalos, trabalho ou cocaína, tem cura para tudo: mas a cura é cara" (página 79).
Faltam mapas e alguns capítulos trazem idéias fora do lugar, como o da página 176, "menos um bandido", reproduzido a seguir. "Do multimilionário gangsta rapper Snoop Doggy Dog para o público: 'Vocês deveriam ficar felizes e dar graças a Deus por eu ter me tornado rico e famoso; senão seria mais um crioulo para traficar crack, assaltar vocês, comer suas mulheres e infernizar suas vidas.' Sinceridade é isto aí: é exatamente o que acontece com alguns craques de futebol brasileiro. Se não fossem ricos e famosos, você acha que o Romário (ou o Edmundo) estariam fazendo o quê?"
Não comece a ler "Nova York É Aqui" como se fosse um guia de turismo convencional. É um livro de histórias nova-iorquinas contadas por um brasileiro com senso de humor. O brasileiro é um dos apresentadores do programa "Manhattan Conection", do canal GNT em TV paga. Quem está de malas prontas, deve começar a ler pelo fim: o último capítulo é sobre "o melhor e o pior do Natal em Nova York", com razões para ir ou desistir da viagem nessa época do ano.

SERVIÇO
Pacotes para Nova York: Soletur: Oferece sete noites no hotel Belvedere (categoria turística superior), traslado do aeroporto ao hotel e vôo pela Varig. O preço por pessoa em quarto duplo é US$ 2.140, mais taxa de embarque. Aceita pagamento parcelado em três vezes sem juros com cheques pré-datados ou seis vezes sem juros pelo cartão de crédito. Tel: 530-0066. Stella Barros: Inclui hospedagem no hotel Hilton Towers (cinco estrelas), passagem aérea pela Varig, taxa de embarque, traslado e um city tour no período de 29 a 4 de janeiro. O preço por pessoa em apartamento duplo é US$ 1.041 (parte terrestre) mais US$ 1.220 (parte aérea). É possível pagar em três vezes sem juros. Tel. 3067-7700. CVC: O pacote dá direito a sete noites no Hotel Park Central (categoria turística superior), passagem aérea pela Varig, com taxas de embarque, e traslado. O preço US$ 1.888, por pessoa em quarto duplo, pode ser dividido em três vezes sem juros em cheques pré-datados ou em cinco sem juros pelo cartão de crédito com entrada em dinheiro. Tel. 231-1222.

Passagens aéreas: US$ 1.302 mais taxas, pela Varig, United Airlines ou American Airlines. Preço para permanência de no mínimo sete dias e no máximo 30.
Varig: 5561-1161; United Airlines: 253-2323/ 0800162323; American Airlines: 214-3001

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