São Paulo, domingo, 7 de dezembro de 1997
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Telefonia aguarda efeitos da privatização

SILVANA QUAGLIO

SILVANA QUAGLIO; CLEBER MARTINS
EDITORA-INTERINA DE EMPREGOS

O mercado estima um déficit de 6 milhões de terminais apenas nos Estados do Rio e de São Paulo

CLEBER MARTINS
Conseguir um telefone em um centro urbano, como Rio ou São Paulo, continua sendo um martírio. Para quem consegue ser chamado em um programa de cadastramento (o antigo plano de expansão), a espera pode se alongar para além de dois anos.
O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) investiu R$ 21 bilhões para modernizar o sistema telefônico do país, desde 95. Mas aposta que só a privatização das teles (as 31 estatais do sistema Telebrás) acabará com o déficit, estimado pelo mercado em 6 milhões de linhas só nos Estados do Rio e de São Paulo.
O governo se prepara para vender as empresas em junho de 98. Receosas da privatização, algumas delas (Telesp e Telebrás) estão dificultando o acesso aos dados.
Sabe-se, porém, que 2 milhões dos mais de 3 milhões de inscritos no último cadastramento da Telesp, em 96, ainda não foram chamados. Quando forem, poderão esperar outros dois anos pela linha. No Rio, há 1,5 milhão na fila.
O governo prevê que só no próximo século a situação se normalizará. Estão previstos investimentos de R$ 75 bilhões até 2003.
Os números paulistas refletem o desejo e a disposição de apenas uma parcela reduzida da população que pode pagar R$ 1.117,63. Esse era o preço do telefone quando o cadastramento foi feito.
Hoje, pouco mais de um ano depois, o valor despencou para R$ 80, tendo feito uma escala rápida na casa dos R$ 300. O problema é que esse preço só vale onde não há demanda reprimida. Em geral, são regiões onde a população é tão pobre que sobram telefones.
Na cidade de São Paulo, ainda não há um usuário que tenha conseguido telefone por R$ 300 (mais imposto). Muito menos por R$ 80.
O Ministério das Comunicações reduziu o preço para transformar o telefone em um serviço -igual aos de água e luz, como diz o ministro Sérgio Motta-, tirando-lhe o caráter de ativo financeiro.
O que torna a medida praticamente inócua no curto prazo é que os investimentos em infra-estrutura, além de estarem aquém do necessário, levam cerca de 18 meses para dar resultado prático.
Para Márcio Wohlers, especialista em economia das telecomunicações do Instituto de Economia da Unicamp, a oferta de telefones só depende de investimento.
Segundo ele, a Telebrás é rentável e pouco endividada, mas sempre foi vítima da "contenção política dos investimentos".
O governo, diz ele, segurou as tarifas do setor público na década de 80, tentando conter a inflação e, agora, volta a cortar investimentos (R$ 1,5 bilhão da telefonia neste ano e R$ 1 bilhão previsto para 98).

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