São Paulo, segunda-feira, 8 de dezembro de 1997
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O gigante Bradesco finalmente se move

VANESSA ADACHI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Bradesco is back to the game."
Foi assim que o analista de instituições financeiras para a América Latina do banco Salomon Brothers, José Garcia-Cantera, interpretou a aquisição do BCN pelo Bradesco, sacramentada no último dia 2.
A afirmação de Cantera ("O Bradesco está de volta ao jogo") reflete a percepção da maioria dos analistas do setor.
"A aquisição mostrou que o Bradesco não está adormecido", diz o analista do Banco Fator, Carlos Fonseca.
Nos últimos tempos, o Bradesco, maior banco privado do país, parecia acomodado no seu posto de liderança.
"Ele estava imóvel, enquanto outros bancos participavam ativamente do processo de consolidação do sistema financeiro brasileiro", diz Cantera.
Seus principais concorrentes eram os mais ativos. O Itaú adquiriu o BFB (Banco Francês e Brasileiro) e o Banerj, enquanto o Unibanco absorveu o Nacional.
A jogada do Bradesco também afeta os competidores internacionais. "Com isso, o banco queimou uma porta de entrada dos estrangeiros", avalia Fonseca.
Não se sabe se o Bradesco atropelou os planos do Bilbao Vizcaya -que vinha negociando com o banqueiro Pedro Conde- ou se, quando os executivos do banco de Osasco chegaram, os espanhóis já haviam batido em retirada.
Para Fonseca, a escolha pelo BCN (Banco de Crédito Nacional) foi acertada.
O Bradesco, diz ele, precisava crescer. Mas, se adquirisse um banco pequeno, não agregaria muitos negócios. Se adquirisse um banco grande, enfrentaria a sobreposição de agências.
"O BCN agrega bom volume de negócios sem o problema da sobreposição. Seus ativos são grandes em relação ao número de clientes e de agências", define Fonseca.
Para o analista do Salomon Brothers, o principal atrativo é a complementaridade existente entre os dois bancos.
"O Bradesco tinha uma posição fraca entre clientes pessoa física de alta renda e no chamado 'middle market' (empresas médias), que são pontos fortes do BCN."
José Garcia-Cantera aprova a decisão de manter os bancos separados. Para ele, clientes de baixa renda e de alta renda têm necessidades diferentes que precisam ser atendidas separadamente.
Alguns analistas discordam, dizendo que a fusão seria melhor, pois reduziria custos e otimizaria estruturas.
Apesar de positiva, a aquisição do BCN não deve fazer as ações do Bradesco explodirem.
"Manter"
Carlos Fonseca, do Fator, continua recomendando aos investidores que mantenham suas ações do Bradesco em carteira. Não é hora de vender, mas também não é para comprar.
A notícia de que o BCN seria adquirido, divulgada no final de outubro, não impediu que as ações do Bradesco mergulhassem com a Bolsa e os demais papéis do setor financeiro durante o crash.
No ano, Bradesco PN acumula valorização de 24%, bem abaixo da alta registrada pelo Ibovespa no período (43%).
A maioria dos analistas está revendo para baixo o resultados dos bancos, em função da elevação dos juros e maior tributação dos fundos de investimento.
Um relatório recente do Salomon Brothers afirma que "a lucratividade do sistema cairá porque os bancos são mais suscetíveis à deterioração da qualidade dos ativos do que à expansão das margens" por conta dos juros maiores.
O relatório ressalta, no entanto, que "Bradesco e Itaú não devem sofrer grandes perdas. Mas os resultados do Unibanco podem cair consideravelmente 98".

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